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Carolina Maria de Jesus, a escritora da favela

No lançamento, o livro ‘Quarto do despejo’ desbancou Sartre e Jorge Amado nos mais vendidos

Por Carlos Eduardo Entini
Atualização:
 

Carolina de Jesus e a filha na favela do Canindé, em abril de 1961. Acervo/Estadão


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Em 1960, Carolina Maria de Jesus, catadora de papel e moradora da favela do Canindé no centro de São Paulo, surpreendeu a literatura brasileira com o livro “Quarto de Despejo – Diário de uma Favelada”. A autora e o livro, escrito em cadernos que achou no lixo e guardados em um saco de pano, foram descobertos por acaso. Pautado para cobrir a inauguração de um parque infantil na favela, o jornalista Audálio Dantas ouviu a reclamação de uma mulher depois de alguns homens expulsarem as crianças dos brinquedos, e que iria colocá-los em seu livro.



O Estado de S. Paulo - 9/9/1960

 


O livro da ‘escritora da favela’, como ficou conhecida, chamou atenção dos leitores por causa do contundente retrato da realidade da favela feito por Carolina. E também colocou no centro da discussão política e social o problema da moradia.


"Quarto do despejo" ganhou o mundo. Foi destaque na imprensa internacional, com direito a reportagem na revista Times, virou peça de teatro e foi traduzido para dezenas de línguas. Em Portugal, o livro foi censurado pela ditadura salarzista.



O Estado de S. Paulo - 25/9/1960

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No Brasil “Quarto de Despejo” obteve tanto sucesso que entrou para a lista do mais vendidos batendo os de Jean Paul-Sartre e ‘Gabriela’, de Jorge Amado. No dia do lançamento, em 30 de agosto de 1960, a escritora autografou mais de 600 livros, um recorde. Entre os que compareceram ao evento, estava o Ministro do Trabalho João Batista Ramos, que na ocasião prometeu uma casa para a escritora.



O Estado de S. Paulo - 18/12/1960

 



Na edição de 23 de setembro, o Estado comprovou o fenômeno “duas livrarias da cidade nos informaram que da primeira edição foram vendidos 10 vezes mais exemplares do que se vende comumente quando aparece um romance de grande interesse”. Ainda segundo a reportagem foram vendidos 500 livros quando o comum, na época do lançamento era de 40 ou 50 exemplares.


 

A escritora em dezembro de 1961 antes de embarcar para o Uruguai para lançar o livro. Acervo/Estadão



Apesar da promessa de receber uma casa do ministro, foi com os dinheiro recebido do livro que Carolina conseguiu sair da favela. Ela comprou uma casa no bairro de Santana. Mas logo depois a vendeu para comprar um sítio em Parelheiros, zona Sul da São Paulo. Depois do “Quarto de Despejo”, Carolina escreveu “Casa de Alvenaria”, em 1961. O segundo livro não obteve sucesso e ficou encalhado nas prateleiras.


Carolina Maria de Jesus morreu, aos 64 anos, em 1977 vítima de bronquite asmática em seu sítio.

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Tag: literatura


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