Hoje o jornal satírico francês
Charlie Hebdo
sofreu novamente um ataque contra sua sede. Em 2011 o periódico foi vítima de um incêndio criminoso, um dia antes de chegar às bancas a controversa edição de
que trazia caricaturas do profeta Maomé e sátiras ao Islã radical. Coquetéis molotov foram arremessados contra os escritórios do tabloide e, no mesmo período, o website da publicação também sofreu um
. Mas, diferente do
, o de 2011 não fez vítimas.
Após o incêndio, governos europeus, grupos da sociedade civil e veículos de imprensa se manifestaram à favor do jornal, da liberdade de expressão e de imprensa. Os funcionários do Charlie Hebdo foram abrigados pelo diário Libération, onde a edição que trazia as charges foi encartada para distribuição.
O jornal não se intimidou, voltou a publicar uma série de charges de Maomé em
. Em 19 de setembro daquele ano, o governo francês decidiu fechar embaixadas e escolas em 20 países, temendo que a publicação pudesse inflamar ainda mais a
que varreu os países islâmicos após a divulgação de trechos do filme americano
A Inocência dos Muçulmanos
que ridicularizava o profeta. O filme desencadeou a revolta em países muçulmanos, embaixadas e missões diplomáticas americanas foram alvo de multidões em fúria, no Egito, Iêmen, Sudão, Tunísia, Gaza, Afeganistão e Irã. Na Líbia a
embaixada dos Estados Unidos foi invadida
e,o embaixador americano, Jay Christopher, foi assassinado. O governo francês defendeu novamente o direito à liberdade de expressão do tabloide e enviou tropas de choque para guardar a sua sede. A edição de 19 de setembro de 2012 trazia uma charge de Maomé na capa, dizendo “
Não dá para brincar
”, numa paródia ao filme francês Os Intocáveis. Nas páginas internas o profeta era retratado nu, em poses que imitavam um ensaio sensual. A publicação, que vende em média 45 mil exemplares, viu os 75 mil exemplares postos em circulação esgotarem. O cartunista
, que está entre os 12 mortos do ataque desta quarta-feira (07), assinou o desenho da capa e, na época, declarou:
"Eu vivo sob a lei francesa, não sob a lei corânica. Nós podemos caricaturar quem quer que seja na França, de Maomé a Marx.”
Em 2006 o Charlie Hebdo já havia se deparado com protestos da comunidade islâmica francesa contra suas charges e sátiras. A França, país que tem a maior população islâmica da Europa Ocidental, viu a polêmica crescer. Naquele ano, Mohammed Maoussaoui, líder do Conselho Francês da Fé Muçulmana, levou a publicação aos tribunais num processo por difamação por causa das caricaturas de Maomé. A justiça francesa entendeu as charges como críticas aos radicais muçulmanos, não como um ataque ao islamismo.
Um ano antes, foi a Dinamarca que vivenciou tensões geradas pela publicação de desenhos do profeta. Em 2005, o jornal Jyllands-Posten despertou a indignação e a fúria do mundo islâmico após publicar 12 caricaturas de Maomé. Milhões saíram às ruas em protestos em países muçulmanos, uma bomba foi colocada na embaixada de Copenhague no Paquistão, missões diplomáticas sofreram ataques no Líbano, na Síria e Irã, cerca de 100 pessoas foram mortas nos distúrbios. Solidários ao periódico dinamarquês, publicações de 50 países, entre elas o Charlie Hebdo, também publicaram os desenhos.