França e suas posições frente aos clamores de independência no Mali

A independência hoje significaria o que a França buscou evitar em 1960

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Essa semana o ministro da Defesa francês, Jean-Yves Le Drian, informou que a campanha militar do país contra os rebeldes ligados à Al-Qaeda, no Mali, deve ser longa. A declaração fez aflorar nos franceses a lembrança e as feridas de uma guerra, longa, mais de sete anos, também na África, também combatida em guerrilha, também contra terroristas, onde se estima que mais de meio milhão de pessoas tenham morrido. A Argélia é um espectro que nunca deixou a França.

PUBLICIDADE

Ao iniciar este novo capítulo na história de suas relações com o Mali, a França intervém militarmente numa ex-colônia que tem em seu passado um bem sucedido processo de independência. Como Gilles Lapouge escreveu para o Estado, em 19/01/1960, um marco para a “história do antigo império colonial francês” e “a primeira vez que tal evolução se realiza sem violência, sem tiros, sem guerra.” Um processo político que,  se deu sem que um conflito armado se instaurasse na região e que, até por isso, aqueceu a polêmica sobre a posição do presidente de Gaulle em relação à Argélia no mesmo período.

 Foto: Estadão

Mas a situação vivida na década de 60 e a de hoje possuem entre inúmeras outras, uma clara diferença. Em 20/6/1960, a França concedeu independência a um país com bases políticas relativamente estruturadas e com um regime que prometia uma relação de amizade. Assim, o Mali, país saariano da África Central, que também compreendia a Federação do Senegal e do Sudão, se tornou o primeiro Estado autônomo do antigo império francês a obter a independência dentro da comunidade franco-africana, uma espécie de “Commonwealth” francesa. Mais tarde, com a saída do Senegal da Federação, em 20/9/1960, formou-se a nação independente do Mali que manteve suas boas relações com a França.

 Foto: Estadão

Em 29/9/1959, o Estado publicou declarações dos líderes da Federação do Mali. Leopold Senghor, líder político no país, declarou que “quarenta milhões de africanos serão promovidos à independência, na amizade com sua antiga metrópole”e pedindo aos europeus que concedessem confiança ao Mali e aos africanos que deixassem de criticar o colonialismo, afirmou que no colonialismo "ao lado dos aspectos negativos, conta realizações positivas."

Hoje, os que levantam a bandeira da independência, mantém relações e discursos nada amistosos com a população do Mali e com a França. Entre os rebeldes, que tomaram o norte do país, estão grupos como o Ansar Dine,e o Mujao, Movimento pela Unidade e Jihad no Oeste da África, com estreitas ligações com a Al-Qaeda do Magrebe Islâmico.

 Foto: Estadão

A questão da independência hoje envolve um temor maior, se em 1960 não ceder aos desejos de liberdade e independência do Mali poderia levar parcela da sua  população para o caminho do terrorismo, já seguido nas ruas de Argel,  hoje conceder aos que pedem a independência pode, como  expressou o presidente francês, François Hollande, o país num 'Estado terrorista', ameaçando a África e a Europa.

Publicidade

 Foto: Estadão
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.