Um episódio definido pelo protagonismo feminino marcou o início do processo que colocou fim a 300 anos de monarquia na Rússia. A Revolução Russa, evento que transformou o mundo em 1917, teve nas mobilizações do Dia Internacional da Mulher um dos seus primeiros atos propulsores. Naquele 8 de março, mulheres saíram às ruas de São Petersburgo para pedir por pão, melhores condições de vida e pela saída da Rússia da Primeira Guerra Mundial. As demonstração também fortaleceram a causa do sufrágio feminino no país.
O Estado de S.Paulo- 06/4/1917
A falta de liberdade, a pobreza e a fome - questões latentes desde a Revolução de 1905-acumulavam-se a novos fatores que aumentavam o descontentamento com o regime autocrático de Nicolau II. A sucessão de derrotas para os alemães na Grande Guerra, os altos custos financeiros da campanha militar russa, o enorme número de fatalidadesno conflito (estima-se que mais de um 1,7 milhões de soldados russostenham morrido na guerra até 1916) e a grave escassez de alimentos nos centros urbanos, faziam crescer a revolta da população russa.
O Estado de S.Paulo - 13/3/1917
Em fevereiro, operários russos começaram a organizar uma série de protestos e greves. No dia 7 de março operários pararam a Putilov, maior fábrica da capital russa. No dia seguinte, uma onda de insatisfação irrompeu entre as mulheres nas filas de racionamento de pão, elas se juntaram aos comícios do Dia Internacional da Mulher e a mobilização tomou conta das ruas de São Petersburgo. O movimento operário aderiu à manifestação e cerca de 50 mil trabalhadores entraram em greve. Os protestos foram brutalmente reprimidos, fazendo a agitação crescer na cidade. Parte das forças enviadas para conter o movimento se amotinaram e acabaram aderindo aos protestos. Foi a primeira vez durante o levante de fevereiro em Petersburgo que soldados rebelaram-se, tomando partido contra o Czar, tornando evidente a ruptura entre os estratos do exército e o poder imperial, um fator determinante para a sequencia da revolução.
Com as ruas de Petersburgo em estado de insurgência e tendo perdido a autoridade sobre seu exército, Nicolau II abdicou do trono russo em favor do seu irmão, o grão-duque Miguel Alexandrovich, em 15 de março. Alexandrovich recusou a coroa, colocando término ao longo reinado dos Romanov. Lideranças liberais da Duma, com o apoio de parte dos socialistas, formaram um governo provisório. O poder de mobilização mostrado nas ruas constituiu o capital político necessário para empurrar a bandeira do voto feminino diante do governo provisório russo. Assim, quando a administração provisória criou as primeiras leis que embasariam o sufrágio universal no país, a Rússia se tornou um dos primeiros países do mundo a conceder às mulheres o direito ao voto - até 1917 apenas Dinamarca, Noruega, Austrália, Nova Zelândia e alguns Estados norte-americanos haviam estendido esse direito às mulheres. As russas puderam participar da eleição para formação da Assembleia Constituinte de 1918.Leia também:
#Quem foram as sufragistas#Por voto, feminista morre em Derby#Um "Velázquez" é retalhado pelo direito de voto # Mulheres de calça chocaram no início no século 20
# São Paulo aplaudia calça feminina em 1911 # Declarada guerra ao espartilho # Em 1911, calças e aviões também eram coisas de mulher
#Pelo direito de usar monoquíni #Assine |# Licenciamento de conteúdos Estadão |
# Siga: twitter@estadaoacervo | facebook/arquivoestadao | Instagram |
