Morte de Pasolini foi tão chocante quanto sua obra

Diretor de cinema italiano foi morto há 40 anos em circunstâncias mal esclarecidas

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Por Cristal da Rocha
Atualização:

A morte do diretor de cinema e escritor Pier Paolo Pasolini foi tão chocante quanto sua obra. Assassinado há 40 anos, em um dia de finados, o diretor de cinema estava no auge de sua carreira. O cineasta morreu em 2 de novembro de 1975 no balneário de Ostia, a 30 km de Roma, em circunstâncias mal esclarecidas, após uma briga com um garoto de programa. Até hoje não se sabe ao certo se o rapaz agiu sozinho ou em grupo. Na fuga o agressor pegou o carro de Pasolini e passou sobre seu corpo, esmagando seu coração. O agressor, Giuseppe "Pino" Pelosi, chegou a declarar em outros depoimentos que o diretor foi assassinado por três pessoas. O caso foi reaberto, mas recentemente a Justiça italiana o arquivou.   

Considerado na época um grande diretor de cinema italiano, Pasolini era dotado de uma intensa energia para expressar suas opiniões a respeito de temas políticos e sociais nos quais acreditava. Entre os filmes idealizados, escritos e dirigidos por Pasolini estão “La Ricotta” que incluía Orson Welles em seu elenco e “O Evangelho Segundo São Mateus”. A igreja o acusou de injúria e atentado a moral com “Teorema”. Esse filme foi censurado em todo Brasil em 1969.

Embora tenha falecido jovem, aos 53 anos, ele deixou em seu currículo uma lista considerável de filmes. Até hoje são cultuados e viraram referência por causa de sua abordagem política e religiosa, tais como “Mamma Roma”, “Gaviões e Passarinhos”, “Édipo Rei”, “Medéia”, que incluía a cantora lírica Maria Callas no papel principal, e o mais questionador filme “Saló, Os 120 Dias de Sodoma”. ”Saló”, o último do diretor, possuiu imagens que à época escandalizaram as pessoas com nudez, violência sexual e escatologia. Pasolini não pôde vê-lo nas telas, foi assassinado 20 dias antes do lançamento.  

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Por acreditar ser um homem deslocado de seu tempo, o cineasta usou a tela do cinema como meio de comunicação para mostrar a sociedade a qual pertencia e para o público as mazelas do proletariado, o estilo de vida agressivo e a base de exploração no qual viviam os italianos do pós-guerra. Transformando seus filmes muito mais do que cenas que chocavam através de corpos sem roupas, abusos físicos, psicológicos e radicalismos contra a igreja, eles forneciam subsídios para o entendimento do cotidiano em Roma de forma tal qual como era entendida por ele: lamentável e degradada. Pier Paolo Pasolini era conhecido por seu estilo provocador, radical e a favor da liberdade sexual, sempre se expressou emocional e politicamente, por isso acabou sendo condenado por suas condutas pessoais. Em sua última entrevista, poucos dias antes de sua morte, falava sobre os jovens de Roma e veio a falecer de forma truculenta pelas mãos daqueles que sempre procurou abordar de forma crítica e questionadora em seus trabalhos. 

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