O desafio digital em acervos e museus

Seminário em São Paulo abordou desde a guarda até a divulgação do material digital

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Por Cristal da Rocha e Carlos Eduardo Entini
Atualização:
 

No seminário foi debatido todos os aspectos do digital, desde o que preservar até como divulgar as informações

 

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Se a presença do digital chacoalhou todas as instituições de todas as áreas, por que seria diferente nos acervos de museus? Por isso, o desafio do digital foi assunto do IV Seminário Serviços de Informação em Museus, realizado no começo de novembro, no Sesc Bom Retiro, em São Paulo. No encontro, o digital foi debatido sob diversos aspectos, tais como, política pública de digitalização, repositórios, divulgação, produção e gestão de dados e metadados.

O que se viu foram experiências que mostraram a abrangência de como o digital atingiu os centros de documentação desde a criação de uma política de preservação passando pelas forma de salvaguardar até o uso dos dados armazenados.

A preservação do digital começa com um dilema. O que preservar e o que descartar frente à enormidade de documentos natos digitais, mais os digitalizados é uma questão que intriga Marta Colabone do Sesc Memórias, que sediou o evento. A resposta vem com a criação de uma política junto às instituições.

Os que mais preocupam são os documentos nato digitais explica Isabel Ayres, coordenadora da biblioteca e do centro de memória da Pinacoteca do Estado de São Paulo e uma das organizadoras dos eventos. Segundo ela, além de documentos, existem obras de arte em formato digital que com o tempo se tornam obsoletas. Neste sentido discutiu-se a necessidade de uma organização e planejamento a médio e longo prazo, onde custos operacionais mínimos sejam previstos para as eventuais atualizações de suporte e tecnologia.

Obsoletas também se tornam os formatos e formas de salvaguardar, por isso cada decisão de guarda é tomada num contexto que é o resultado do avanço da informática. "E tomar uma decisão, mesmo que seja questionada no futuro, é um retrato da situação atual frente a uma infinidade de possibilidades", explica Fernando Marinelli, do Sesc. "Mas tudo tem que ter o primeiro passo", continua Marinelle, que também participou da organização do evento.

Para combater a instabilidade do formato digital já existem repositórios confiáveis que garantem a autenticidade e a guarda a longo prazo. É o caso do Archivematica que foi apresentado em um workshop ministrado por Daniel Flores, professor da Universidade Federal de Santa Maria. O Archivematica é um software de código aberto que permite que diversos formatos digitais sejam preservados com segurança, sejam eles links, imagens, games etc. Ele blinda o original que fica sob responsabilidade do profissional arquivista, bibliotecário ou museólogo, e disponibiliza plataformas de acesso seguro aos acervos.

A guarda em repositórios estáveis é apenas uma das pontas dos desafios do digital. Devido à enorme quantidade de documentos nato digitais é preciso ter foco no gerenciamento. A dica de Jack Ludden, da Fundação Getty, é que a tecnologia exige “mudanças constantes ao invés de bruscas e longas”. E ela deve ligar os pontos das instituições, disse ao se referir sobre a maneira de gerenciar os documentos nato digitais.

Ludden também contribui ao traçar as relações que se iniciam no desenvolvimento da tecnologia de ponta, passando pela interoperabilidade e discutiu a importância de se ter consciência do trabalho que se executa a fim de compreender como ele chega até o público final e a importância de conhecer seus usuários. Ele também afirmou a importância das relações estabelecidas através das redes sociais e que é vital que estejam sempre atualizadas e com conteúdo fazendo que o visitante sempre esteja se conectando com o museu ou centro de memória.

Mas apenas depositar, gerenciar e dar acesso não termina com o desafio do digital nos acervos. É necessário trabalhar com os dados, ou como afirmou Vinicius Pontes Martins, da BNDigital: “Digitalização desprovida de contexto não gera conhecimento”, ou seja, os acervos também estão diante da possibilidade de atuarem com curadoria.

Na mesma linha, Luis Fernando Sayão pesquisador da CNEN (Conselho de Energia Nuclear) e conselheiro do CONARQ (Conselho Nacional de Arquivos) afirmou que a memória precisa ser ativada. Para ele, apesar dos objetos digitais serem complexos, por outro lado são maleáveis, interativos e reprogramáveis.

 

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