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Trote: tradição da era medieval

No Brasil há registro do rito desde 1827; no início do século 20, imprensa discutiu violência

Por Rose Saconi
Atualização:

Criado na Idade Média para integrar alunos veteranos e novatos, o trote passou a ser utilizado para recepcionar os calouros nas universidades europeias no século 11. Na época, os universitários eram submetidos a rituais ridículos e cenas de constrangimento e submissão. Além de terem os cabelos raspados, suas roupas eram queimadas em uma espécie de rito de purificação.

No Brasil, o trote despontou com selvageria em 1827, nas escolas militares. O primeiro caso grave registrado data de 1831. Francisco da Cunha e Meneses foi morto a facadas em seu primeiro dia de aula. Pouco depois, outro calouro morreu ao ser mergulhado em um barril de piche. Mesmo fazendo vítimas, os trotes continuaram sendo realizados e viraram uma tradição no País.

O fim do ritual nas escolas superiores começou a ser discutido na imprensa no início do século 20."

A idéa da abolição do trote aos calouros das escolas superiores (...) merece as sympathias com que foi acolhida pela maioria da classe academica

", escreveu o jornalista Sertório de Castro, em 1910, então chefe da sucursal do Rio do Estado.Em

Por que deve e por que não deve ser abolido o trote

, Castro descreve os violentos trotes praticados na antiga Escola Militar da Praia Vermelha. "

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A iniciação de um recém-matriculado era uma verdadeira atrocidade. Começavam despindo-o quasi por completo. Em estado de meia nudez, era amarrado a uma cama de ferro, e sobre seu corpo passeavam as chammas de um jornal acceso

."

 Foto: Estadão

Outros, como mostra uma crônica publicada na mesma época, saíam em defesa da prática do trote: "

Não vejo razão para se abolir essa mesma prova, infinitamente mais suave com que os veteranos experimentam os que pretendem iniciar-se no grande mysterio da Sciencia para a conquista do saber. (... ) O trote encontra, portanto, justificação bem séria no mundo moderno

".

Confraternização.

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Ao longo das décadas, instituições foram adotando a prática do trote pacífico. Na década de 1930, a

Faculdade de Direito de São Paulo promovia a Festa do Abacaxi,

uma confraternização em que calouros recebiam dos veteranos a fruta, simbolizando as dificuldades do curso e os espinhos da profissão. "Nada de empurrões, cacholetas(pancada na cabeça)e outras brincadeira de mau gosto",

anunciou no jornal, em 1932

, uma escola de Campinas, optando por uma festa.

 Foto: Estadão

Mortes causadas durante trotes, como as de um

estudante que foi agredido em 1980

e outro que

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se afogou em uma piscina, em 1999

, causaram grande repercussão. Hoje, a maioria das escolas combate com rigidez a violência, com punição severa e legal aos responsáveis. 

 Foto: Estadão

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