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Um "Velázquez" é retalhado pelo direito de voto

Há um século, militante inglesa pelo voto feminino atacou com faca o quadro 'Vênus ao Espelho'

Por Liz Batista
Atualização:
 

Em mais um atentado em defesa do voto feminino na Inglaterra, a sufragista Mary Richardson retalhou com uma faca o quadro

Vênus ao espelho

(1647-1651) do pintor barroco espanhol Diego Velázquez (1599-1660), pertencente à Galeria Nacional de Londres (

National Gallery

).

“O facto, divulgado pelos jornaes, causou viva impressão, nas rodas artisticas e literarias

”, informou o

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Estado

na edição de

11 de março de 1914

. O caso se tornou emblemático e somou-se aos audaciosos atos de desobediência civil cometidos pelas sufragistas na Inglaterra.

 

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Enquanto a maior parte da opinião pública revoltava-se contra o ato, e especulava sobre os danos infringidos a rara obra de Velázquez, um dos pouquíssimos nus realizados no período da Inquisição espanhola, a feminista Richardson explicava em depoimento que tentara “

(...) destruir a imagem da mulher mais bonita na história mitológica como um protesto contra o governo que estava destruindo a Sra. Pankhurst (líder sufragista presa), que é o personagem mais bonita da história moderna

(...)

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As declaração dadas à polícia de Londres foram publicadas na reportagem do

The Times

. A matéria também trazia detalhes sobre o ato, um histórico da obra e a análise de um especialista sobre os prejuízos materiais do atentado. Calculava-se que o quadro, estimado em 45 mil libras esterlinas, perdera entre 10 a 15 mil libras esterlinas de seu valor. No entanto, a faca usada pela sufragista estava afiada e acabou por produzir cortes limpos e rentes, o que facilitava a restauração da obra. Um trabalho que custaria em torno de 100 libras esterlinas.

 

Atos Sufragistas.

As ações sufragistas se intensificaram nos sete primeiros meses de 1914. Por volta de cento e cinquenta atentados sufragistas foram noticiados pela imprensa inglesa naquele ano. Na Escócia, castelos foram destruídos por incêndios creditados às militantes. A Biblioteca Carnegie, em Birmingham, a Abadia de Westminster, a

Igreja de São Jorge

, na praça Hannover e várias casas vazias pertencentes a parlamentares também sofreram atentados. Os próprios membros do governo eram alvos. Em fevereiro daquele ano Lord Weardale, o presidente da Liga Anti-Sufragista, foi “

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subitamente esbofeteado

” por uma feminista na estação de Euston, em Londres.

 

Alguns anos antes, em 1909, Winston Churchill

,

então Ministro do Comércio da Inglaterra, foi recebido de “

chicote em punho

” por uma militante que desferiu-lhe algumas chicotadas antes de ser desarmada. Em 1913, o famoso Derby de Epsom, foi palco da trágica morte da

sufragista Emily Davison

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. A moça foi atropelada e morta pelo cavalo do rei da Inglaterra ao tentar colocar no animal um broche do movimento feminista, durante a corrida.

 

Emily sendo atingida pelo cavalo do rei durante o Derby de Epsom em 04/06/1913. Imagem: The Graphic, 1913

 

Durante todo aquele ano museus e galerias de arte, mantiveram-se alertas contra os ataques sufragistas. Em junho, Bertha Ryland foi presa por danificar uma obra de Romney Mestre Thornhill, exposta na Galeria de Arte de Birmingham. Dois meses antes, foram “

quebrados diversos mostradores da secção asiática

”, no Museu Britânico, no que parecia se tratar de “

um novo attentado suffragista

”, segundo a nota publicada pelo

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Estado

em

11 de abril de 1914

. O ataque deixou objetos preciosos “

inutilizados

”.

 

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