João Cabral de Melo Neto

Poeta

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Por Redação
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João Cabral de Melo Neto

6/1/1920, Recife (PE) – 9/10/1999, Rio de Janeiro (RJ)

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Considerado um dos maiores poetas brasileiros e vencedor de prêmios nacionais e internacionais de literatura, passou parte da infância em engenhos de açúcar nas cidades de São Lourenço da Mata e  Moreno. Frequentou na adolescência o Café Lafayette, local onde se encontravam diversos intelectuais do Recife. Em 1942, ano de publicação de seu primeiro livro de poesia, "Pedra do Sono", muda-se com a família definitivamente para o Rio de Janeiro.

O escritor é considerado modernista da geração de 45, mas desenvolveu estilo próprio durante sua vida, consagrando-se como autor único no cenário da poesia moderna e contemporânea. Apesar do contato com autores como Manuel Bandeira, Murilo Mendes e Vinícius de Moraes, Cabral era severo em críticas à poesia moderna, defendendo uma escrita clara e objetiva, muitas vezes distante das obras de sua geração.

Também conhecido como “engenheiro do verso”, o poeta primava pela palavra precisa, sempre em função de textos estruturados e sintéticos, construídos pelo “poeta engenheiro”. Cabral buscava uma linguagem organizada e acessível, em oposição à excentricidade e à desorganização características dos poetas modernos. A poética cabralina – da medida dos versos, da precisão e da clareza – serviu de inspiração para autores contemporâneos como Ferreira Gullar. Com sua alma viajante, Cabral também conviveu com artistas como Joan Miró e Le Corbusieur.   Tendo iniciado a carreira diplomática em 1945, o poeta morou na Europa, na África e na América Latina, onde trabalhou como embaixador do Brasil. No início da década de 1950, após exercer a função de vice-cônsul em Barcelona e posteriormente em Londres, retorna ao Brasil para responder a um inquérito, acusado de subversão. Nessa época, trabalha como secretário de redação do jornal "A Vanguarda", de Joel Silveira. Reintegrado à diplomacia, vive também na França, Suíça, Paraguai, Senegal, Equador, Honduras e Portugal, aposentando-se em 1990. Trouxe elementos desses diferentes lugares para a sua obra, principalmente da Espanha, cujas paisagens alternam-se com os locais de sua infância, vivida no Nordeste. São comuns referências às touradas espanholas e às ruas de Sevilha, inclusive poemas e trechos em espanhol ou catalão, como "Crime na Calle Relator" (1987) e "Sevilha Andando" (1989). O Brasil também está presente em sua obra, principalmente por meio de imagens do Nordeste, como o sertão de Pernambuco e o rio Capibaribe, retratados em sua obra mais conhecida, "Morte e Vida Severina" (1965). Esse auto de natal pernambucano foi encenado no Teatro da Universidade Católica de São Paulo (Tuca), com trilha sonora produzida por Chico Buarque, tendo sido posteriormente adaptado para o cinema e para a televisão, num programa transmitido em 1981 pela Rede Globo. Interpretado pelo ator Zé Dumont, Severino dá voz à narrativa do migrante e do homem nordestino. Além de "Morte e Vida Severina", destacou-se pela publicação do "Auto do Frade" (1983), livro que resgata a figura histórica de Frei Caneca, líder da Confederação do Equador, morto em 1825, em Recife. Publicado pela Editora José Olympio, o livro foi bem recebido pela crítica e considerado mais um de seus épicos nordestinos. Dentre sua produção literária, destacam-se também "O Cão Sem Pluma" (1950), "Museu de Tudo" (1975), "Poesia Crítica" (1982) e "Agrestes" (1985). Sua Obra Completa foi publicada em 1994, pela Editora Aguilar. Eleito membro da Academia Brasileira de Letras em 1968, por unanimidade, foi também indicado cinco vezes ao Nobel de Literatura, tendo recebido importantes prêmios ao longo de sua carreira literária, tais como o Jabuti e o Camões. Conhecido por suas angústias, manias e constantes dores de cabeça, Cabral deixou de escrever após sofrer de uma cegueira e de depressão no final de sua vida, vindo a falecer aos 79 anos de idade.

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