José Lins do Rego

Escritor

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Por Redação
Atualização:

José Lins do Rego Cavalcanti

3/6/1901, Pilar (PB) – 12/9/1957, Rio de Janeiro (RJ)

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Filho dos fazendeiros João do Rego Cavalcanti e Amélia Lins Cavalcanti, ainda criança perdeu a mãe e foi criado pelo avô, num engenho de açúcar. Aos oito anos foi para um internato e ali estudou durante três anos. Em 1912, quando passa a estudar em João Pessoa, publica seu primeiro artigo em um jornal. Na adolescência começa a ter contato com obras de escritores renomados, como Raul Pompeia e Machado de Assis, e inicia sua vocação literária.

Já no Recife, conclui os estudos secundários e, em 1919, ingressa na Faculdade de Direito. Nessa época também começa a colaborar no Jornal do Recife, assinando ainda uma coluna literária para o jornal Diário do Estado da Paraíba. Durante a década de 1920, convive com o meio literário pernambucano e se torna amigo de José Américo de Almeida, Osório Borba e Gilberto Freyre, que voltava de uma temporada de estudos universitários nos Estados Unidos trazendo novas ideias sobre a formação social brasileira, que influenciarão de forma decisiva o pensamento de José Lins.

Depois de formado, casa-se com Filomena Masa Lins do Rego, com quem teve três filhas. Em 1925, é nomeado promotor em Manhuaçu (MG), mas permanece no cargo por menos de um ano, quando se muda para Maceió para trabalhar como fiscal, cargo que exerceu durante quase dez anos. Nessa época se torna colaborador do Jornal de Alagoas e passa a integrar o grupo de Graciliano Ramos, Jorge de Lima, Rachel de Queiroz e Aurélio Buarque de Holanda. Publica, com recursos próprios, seu primeiro livro, "Menino de Engenho" (1932), obra que revela as raízes rurais do mundo do Nordeste açucareiro com as quais o escritor conviveu durante toda a infância. O livro recebe elogiosas críticas, ganha o Prêmio da Fundação Graça Aranha e se torna um marco literário do moderno romance brasileiro. Este é o primeiro dos cinco livros que compõem o que o próprio escritor definiu como o “Ciclo da Cana-de-Açúcar”, ao lado de "Doidinho" (1933), "Banguê" (1934), "Usina" (1936) e de sua obra-prima "Fogo Morto" (1943), romance que o consagra como mestre do regionalismo.

A partir de 1935 passa a residir no Rio de Janeiro, onde se destaca como cronista, escrevendo diariamente para diversos jornais. No ano seguinte, publica "Histórias da Velha Totonha", seu único livro infantil. Na cidade carioca revela sua paixão pelo futebol. O flamenguista fanático chega a ser um dos diretores do Clube de Regatas do Flamengo, e entre 1942 e 1954 ocupa o cargo de secretário geral da Confederação Brasileira de Desportos. Em 1953, publica seu último romance, "Cangaceiros", que integra o “Ciclo do cangaço, misticismo e seca” em conjunto com "Pedra Bonita" (1938).

Por sua expressiva produção literária, torna-se membro da Academia Brasileira de Letras em 1955. O sarcasmo utilizado pelo escritor em seu discurso de posse para falar de seu antecessor na cadeira 25 da ABL, o ministro do Supremo Tribunal Federal Ataulfo de Paiva, fez com que seus discursos posteriores fossem previamente censurados. Seu último livro, "Meus Verdes Anos", de memórias e reminiscências, é publicado em 1956. O romancista que abordou a decadência dos senhores de engenho e explorou o sistema patriarcal publicou ainda as obras "O Moleque Ricardo" (1935), "Pureza" (1937), "Riacho Doce" (1939), "Água-mãe" (1941) e "Eurídice" (1947). Seus livros foram adaptados para o teatro, cinema e televisão, e traduzidos na Alemanha, Espanha, Estados Unidos, Argentina, Inglaterra, França, Itália e Coreia. O escritor faleceu em 1957, aos 56 anos, vítima de uma crise hepática.

Em seu autorretrato, datado de 1947, o escritor assim se define: “Tenho quarenta e seis anos, moreno, cabelos pretos, com meia dúzia de fios brancos, 1 metro e 74 centímetros, casado, com três filhos e um genro, 86 quilos bem pesados, muita saúde e muito medo de morrer. Não gosto de trabalhar, não fumo, durmo com muitos sonos e já escrevi 11 romances. Se chove, tenho saudades do sol; se faz calor, tenho saudades da chuva. Vou ao futebol e sofro como um pobre diabo. Jogo tênis, pessimamente, e daria tudo para ver o meu clube campeão de tudo. Sou homem de paixões violentas. Temo os poderes de Deus, e fui devoto de Nossa Senhora da Conceição. Enfim, literato da cabeça aos pés, amigo dos meus amigos, e capaz de tudo se me pisarem nos calos. Perco então a cabeça e fico ridículo. Não sou mau pagador. Se tenho, pago; mas se não tenho, não pago, e não perco o sono por isso. Afinal de contas sou um homem, como os outros. E Deus queira que assim continue”.

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