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Assaltante do trem pagador virou celebridade no Brasil

Ronald Biggs, um dos 15 ladrões, foi garoto-propaganda e tema de samba-enredo

Por Rose Saconi
Atualização:

Um dos assaltos mais famosos do mundo, o do trem pagador da Inglaterra, aconteceu há 50 anos. Entre os participantes da ação estava o inglês Ronald Biggs, que conseguiu escapar da polícia e refugiou-se no Brasil, onde casou e teve um filho. Em 2001, num acordo com a Justiça britânica, ele retornou à Grã-Bretanha, onde finalmente foi cumprir a pena pelo assalto.

O assaltante inglês Ronald Biggs passeia em Copacabana em 1974, ano em que foi descoberto. Foto: Carlos Chiccarino/Estadão

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O roubo. Em 8 de agosto de 1963 15 ladrões, entre eles Ronald Biggs, roubaram o trem postal que fazia a rota entre Glasgow, na Escócia, e Londres, na Inglaterra. O assalto rendeu ao bando 2,6 milhões de libras esterlinas e foi considerado na época pela imprensa britânica como “roubo do século”. "Trem-correio assaltado na Inglaterra: roubado um milhão de esterlinas", noticiou o Estado no dia seguinte, ainda com poucas informações recebidas das agências de notícias internacionais.

O Estado de S. Paulo - 9/8/1963


 Foto: Estadão

Após o roubo, que durou cerca de 20 minutos, os ladrões fugiram para uma granja sem deixar rastro. Lá dividiram o dinheiro, e só foram identificados dias depois porque deixaram impressões digitais.Desafio à polícia. Após o assalto, a polícia inglesa começou a receber inúmeros telefonemas de detetives amadores interessados no caso, além de pistas falsas sobre o local do esconderijo dos ladrões.

O Estado de S. Paulo - 15/8/1963


 Foto: Acervo Estadão

Ronald Biggs, embora não estivesse entre os chefes da quadrilha, foi o único a virar celebridade entre os assaltantes. Foi preso um ano depois e condenado a 30 anos de prisão, mas conseguiu fugir da prisão. Depois de ficar quatro meses escondido nos arredores de Londres, o assaltante, com nome falso, conseguiu viajar para a Bélgica e, em seguida, para a França, onde fez uma operação plástica no rosto. Lá, Biggs obteve novo passaporte falso, e viajou para a Austrália, a Argentina e, em 1970, chegou ao Brasil.

O Estado de S. Paulo - 10/7/1965

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 Foto: Estadão

No Rio de Janeiro viveu como turista e marceneiro. Conheceu a dançarina brasileira Raimunda de Castro, com quem se casou e teve um filho. Foi descoberto no Brasil pela Scotland Yard em 1974, mas, de acordo com as leis brasileiras por ter um filho brasileiro, tinha permanência no País garantida.

O Estado de S. Paulo - 2/2/1974


 Foto: Estadão

Celebridade. O ex-ladrão ficou famoso e passou, então, a se integrar à vida carioca, e até artística. Sem o dinheiro do roubo, que alegou ter gastado em fugas, subornos e na operação plástica, soube ganhar dinheiro dando entrevistas exclusivas à imprensa e um esquema publicitário que transformou seu nome em grife.Em 1978 foi convidado pela banda de punk rock Sex Pistols para uma participação em um disco. Gravou até uma música de sua autoria, No one is innocent. Em forma de oração, a letra pede que Deus salve 'todos nós pecadores'. Biggs também publicou no Brasil e no exterior em 1981 o livro A minha verdade, em que contava como tinha sido o assalto ao trem. Seu filho, Michael, chegou a participar do programa infantil de televisão Balão Mágico.

Durante a Eco-92 Biggs participou de um programa da Rádio-Imprensa FM, dando dicas de segurança aos turistas estrangeiros para evitar assaltos no Rio. No mesmo ano, na televisão, atuou como garoto-propaganda de uma empresa de segurança. Aparecia sentado à beira da piscina, com um copo na mão, dizendo: "Se você quer proteger seu patrimônio, escute a opinião de quem entende um pouquinho do assunto".

Em 1998, Biggs foi citado no "Samba no pé e mãos ao alto, isso é um assalto", enredo da escola de samba Porto da Pedra que deu destaque ao célebre assalto ao trem.

Ronald Biggs e sambista nNa quadra da Escola de Samba Porto de Pedra. Foto: Pedro Luiz Alvarenga/Estadão

Na quadra da Escola de Samba Porto de Pedra. Foto: Luiz Alvarenga/Estadão

Após vários pedidos - sem efeito - do governo britânico, pedindo a extradição do criminoso, em 2001 Biggs decidiu por vontade própria se entregar à polícia de seu país. Ele viajou à Inglaterra em um avião fretado pelo tabloide The Sun que teria pago cerca de R$ 1 milhão para ter exclusividade na cobertura de seu retorno.

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O Estado de S. Paulo - 8/5/2001

 Foto: Estadão

Ronald Biggs, hoje com 84 anos, está doente. Em 2009 teve liberdade concedida por compaixão das autoridades britânicas, devido a seu delicado estado de saúde.

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