Cecilia Thompson amou o jornal e a vida

Jornalista atuou por três décadas no Estadão escrevendo, editando e dando voz aos leitores

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Por Edmundo Leite
Atualização:

Cecilia Thompson falou certa vez que se pudesse escolher morreria dentro de uma redação de jornal. Os olhos marejados durante a sua fala aos jovens jornalistas apelidados de focas sinalizavam que sabia que quase sempre o destino não está nem aí para as nossas escolhas. Longe do dia-a-dia do jornal desde 2008, depois de três décadas atuando em diversas funções, Cecilia se foi nessa quinta-feira santa aos 82 anos. Após deixar o jornal que amava, Cecilia, que já experimentara a perda de um grande amor, ainda experimentaria aquela que é tida como a pior das perdas, a de um filho. Mesmo com essas dores, Cecilia não deixou de amar os seus, as pessoas, as conversas, a palavra, a escrita, os livros, as artes todas, a cultura, o belo, e até o feio. 

A jornalista Cecilia Thompson, entre pastas com cartas de leitoresemsua mesa na redação do jornal, 26/10/1992. Foto: Milton Michida/Estadão

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De 1975 a 2008, Cecilia Thompson traduziu, escreveu e editou vários textos no Estadão. Na seção São Paulo Reclama, concebida por ela, não era o que ela dizia o que importava, e sim o que os outros tinham a dizer. Ali, naquela página alimentada por cartas enviadas ao jornal, deu voz a milhares de leitores que tinham naquela página secundária de caderno um lugar para serem escutados quando ninguém mais os ouvia. 

Parte de suas traduções, reportagens, crônicas e críticas podem ser vistas nesta seleção de textos com a sua assinatura. Num deles, no comecinho de 1994, sob o título de "Às vezes, homens e anjos se encontram"  dividiu com leitores, em breves linhas, fragmentos de algumas histórias que os amigos e colegas de redação tiveram o privilégio de escutar em detalhes: 

"... Deu uma olhada nos 49 diários enfileirados  em ordem cronológica na estante do escritório, "mãe, você tem de resumir tudo isso num livro". "Tenho Mesmo", admitiu - mas se contasse tudo pegava uns 385 processos, de maridos, amigos, namorados e conhecidos. E se não contasse não ia ter graça..."

"Pensou no grande amor da juventude, no companheiro da luta pela igualdade, "clichê antigo situação sempre nova". Para eles naquele tempo, povo era uma abstração teórica. Mas achavam que eles é que iam ensinar ao "povo" como se libertar, pão e rosa para todos. Ideias certas, o resto tudo errado.    O grande amor se afogara em algum afluente do Sena ("Paris está em chamas? Paris está em chamas?" - não estava, mas estava quase sob as águas.) Permitiu-se um sorriso um pouco - um pouquinho só - maligno depois sacudiu as lembranças longe e fez seu primeiro desejo do primeiro dia do ano, por enquanto ainda novo em suas esperanças e previsíveis desilusões: "Este ano quero ser um cachorro - uma beagle, de preferência - e das que falam." São tempos, estes, de surdez. Ouvem-se cães, não os homens. Feliz ano-novo."

Crônicas

Texto de Cecilia Thompsonpublicado em 3/1/1994. Foto: Acervo Estadão
Texto de Cecilia Thompsonpublicado em 11/7/1994. Foto: Acervo Estadão

Tradução

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Texto do escritor mexicano Carlos Fuentestraduzido por Cecilia Thomson. Foto: Acervo Estadão

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