Celestino V renunciou em 1294

O único a renunciar por vontade própria, antes de Bento XVI, foi um papa de transição

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Por Carlos Eduardo Entini
Atualização:

Antes de Bento XVI, o único papa a renunciar voluntariamente foi Celestino V, em 1294. Outros papas renunciaram ao cargo por forças políticas como aconteceu com Gregório XII, em 1415. O franciscano Pietro Morrone, nasceu por volta de 1210 e passou bons anos da vida no isolamento. Tornou-se papa em 29 de agosto de e adotou o nome de Celestino V. A escolha de um eremita inexperiente, com idade avançada - tinha cerca de 84 anos - parecia uma decisão insensata. Mas Celestino V foi um papa de transição e serviu para garantir os interesses do rei Carlo II de Salerno.Com a morte de Nicolau IV, em 4 de abril de 1292, se passaram dois anos sem que o conclave conseguisse chegar aos dois terços necessários para eleger outro papa. Disputas disputas internas entre cardeais dos grupos de Collona e Orsini era a causa da falta de consenso. Um terceiro grupo, liderado por Benedetto Caetani, buscava mais prestígio.

 

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A eleição do papa se tornou ainda mais urgente depois que um acordo de 1293 entre os reis Carlo II de Salerno e Giacomo II da Aragônia, selou a transferência da ilha da Sícilia, território pelo qual disputavam o reino de Napolis e o Aragonês, à igreja em 1297. Depois seria entregue a Carlo II. Para o acordo se concretizar faltava o consentimento da igreja.O eremita Morrone, nome de uma montanha em que viveu cinco anos, acumulou durante sua vida prestígio, atraia vários discípulos por causa de sua fé e também contava com a proteção de Carlos II. Desde 1284 vivia isolado em um monastério em Sulmona sob a proteção do príncipe de Salerno.O nome de Morrone foi apresentado aos cardeais por Latino Malabranca, ligado ao grupo de Caetani. Em mais um conclave, reunido às pressas depois de distúrbios e violentas disputas de territórios, no qual em um deles um irmão do cardeal Orsini morreu, Malabranca contou a visão que teve de um eremita que previra o castigo de Deus caso a vacância no cargo fosse ainda maior. Benedito Caetani, em concluio com Malabranca, perguntou inocentemente quem seria o eremita. “Pietro Morrone”, respondeu.Apesar de nunca ter se encontrado com Morrone, Malabranca sabia de uma carta que o eremita enviara aos bispos cobrando uma decisão e como era danosa a vacância à Santa Sé. A manobra deu certo e o efeito foi imediato. Em novo conclave, em 5 de maio, o nome de Morrone teve apoio dos grupos em disputa e foi consagrado o novo Papa.O papado de Celestino V durou até 13 de dezembro daquele ano quando renunciou. Nesse período, como era de se esperar, Celestino V, delegou suas funções a cardeais de confiança e foi viver em uma cabana de madeira.Dez dias depois da renúncia, Benedetto Caetani foi eleito papa e adotou o nome de Bonifácio VIII.Se Bento XVI passará à história como papa que renunciou devido a causas estritamente humanas, Celestino V ficou como o grande “refutador”. Dante Alighieri, inimigo de Benedetto Caetani, reservou a ele um lugar no Inferno em sua obra a "Divina Comédia". A alusão a ele está no canto III, da porta do inferno, onde estão as almas ingratas e que não foram temementes a Deus, "Alguns já distinguira: eis de repente/Olhando, a sombra conheci daquele/Que a grâ renúncia fez ignobilmente/Soube logo, o que a certo me revele,/Que era a seita das almas aviltadas/Que os maus odeiam e que Deus repele."

 

Última atualização em 13/2 às 16:36

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