A foto dos adolescentes de olho no celular dando as costas à Ronda Noturna de Rembrandt se tornou viral. Vira e mexe ela aparece nas timelines do Facebook, de outras redes sociais e em blogs. A aparente displicência dos adolescentes tem a fórmula perfeita para causar indignação na internet. Os comentários, sempre negativos, ou apontam para o efeito devastador da tecnologia nas mãos dos jovens - a geração de crianças zumbis, escreveu um blogueiro - ou para a indesejada presença de celulares e outros aparelhos eletrônicos nos museus. Afinal de contas, quem nunca se incomodou durante visita a um museu com os cliques dos celulares e as selfies juntos às obras? Mas o contexto original da foto não foi bem esse.
Ela foi tirada em 27 de novembro de 2014 por Gijsbert van der Wal, jornalista holandês especializado em artes, no Rijksmuseum, em Amsterdã, Holanda. Ele estava saindo de um compromisso no museu quando se deparou com a cena. “Eu pensei que era uma visão curiosa e tirei a foto”, explica em entrevista ao Estadão Acervo. A foto foi postada nas redes na mesma noite e, para sua surpresa, em alguns dias ela tinha sido compartilhada quase 9.500 vezes.
Mas a intenção do fotógrafo não era criticar a postura dos jovens. Ele viu uma conversa entre os personagens do quadro e os adolescentes. “Os jovens da fotografia não olhavam para cima, eles se mantinham olhando para os celulares. Os dois personagens no primeiro plano pareciam perplexos com isso”, explica. Mas aí já era tarde demais, e a foto tomou outro contexto na rede. Mas o que realmente os dez adolescentes da foto estavam fazendo? Para a Lizzy Jongma, data manager do Rijksmuseum, não se pode ter certeza se realmente os adolescentes estavam ignorando a obra. Mas ela diz que o museu, um dos mais inovadores na relação entre tecnologia e arte, oferece wifi dentro das galerias e aplicativos para que o visitante aumente a experiência da visita. Com o aplicativo eles teriam mais informações sobre a obra e o museu (veja imagem acima). O museu holandês, ainda segundo Jogma, estimula o compartilhamento das imagens, e permitem que os visitantes fotografem e filmem a visita. “As pessoas realmente gostam de fotografar, e estamos felizes quando os visitantes compartilham suas experiências no Facebook, Instagram, o Twitter etc”, diz Jongma, e completa "pessoalmente, eu espero que eles estavam se divertindo, se divertir em um belo museu ajuda as crianças a apreciar museus quando crescerem".
O Estadão Acervo entrou em contato com a assessoria de imprensa do Rijksmuseum, mas até o fechamento da reportagem não recebeu respostas.
Tag: Museu
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