Em 1989, horário eleitoral sem censura e com liberdade
Na primeira eleição presidencial pós-ditadura, 22 candidatos puderam debater e expor suas ideias
19 de agosto de 2014 | 14h 30
Lula ajeita a antena durante o programa de Ulysses Guimarães (PMDB). Sergio Amaral/Estadão
O Estado de S. Paulo - 15/9/1989
Se comparados
aos atuais, os programas de 1989 foram mais livres e sem as amarras que o
marqueteiros impõem aos candidatos atualmente. O programa do PT usou o humor para defender as suas ideias. Com a 'Rede Povo',
uma paródia da Rede Globo, a coligação criou diversas vinhetas e o programa era
a apresentado pelo próprio Lula. Ronaldo Caiado, do extinto PSD, candidato ligado ao Brasil rural surgiu montado num cavalo. De maneira geral a maioria dos candidatos tinha como principal argumento ser uma opção nova. Por exemplo, o candidato comunista, Roberto Freire, hoje PPS, se apresentou como um homem que nunca tinha votado para presidente na vida.
Mas isso não quer dizer que o marketing não esteve presente. Fernando Collor, o candidato eleito, trabalhou
bem sua imagem de novidade no cenário eleitoral com a segurança. Sua primeira aparição foi
chegando em Porto Seguro, no mesmo lugar onde desembarcou Pedro Álvares Cabral
em 1500. E na sequência a tradição, com imagens do seu encontro com o papa João Paulo II.
Fogo amigo. Collor e sua equipe acertaram em não bater no governo naufragado pela
inflação do presidente José Sarney, do PMDB. Tática que a maioria adotou. Inclusive seu companheiro de partido Ulysses Guimarães. Foi dele a primeira
polêmica da campanha. O programa de estreia do PMDB mostrou cenas de uma
propriedade da família Sarney na Ilha de Curupu e comparou com a vida de uma
moradora pobre que morava ao lado.
O Estado de S. Paulo - 16/9/1989
Gravata, com ou sem. Lula também se preocupou com a imagem. O
candidato não sabia se aparecia na tela com ou sem gravata. Se
estivesse engravatado perderia sua imagem de líder popular. Mas com ela,
inspiraria mais confiança e diminuiria a rejeição que tinha entre os mais ricos. A gravata gerou intenso
debate no PT, e no final das contas ficou definido - pelo próprio Lula - que o uso seria alternado.
O horário eleitoral gratuito não tirou a liderança de Collor, que antes dele já
estava em primeiro lugar com 41% das intenções do voto no primeiro turno,
segundo pesquisa publicada no dia anterior ao início da propaganda. Mas durante
o período dos programa houve muitas trocas de posições no segundo colocado. Antes da
propaganda, Leonel Brizola do PDT era o segundo, com 14,8%, seguido do voto dos
indecisos, com 10,8% e Lula com 6,4%. No resultado final do primeiro turno,
Collor teve 28% dos votos, seguido por Lula com 16%. O tempo de propaganda não
foi fundamental para o resultados. Os candidatos dos partidos com mais tempo,
PMDB, PFL e PSDB, ficaram em 7º, 9º e 4º, respectivamente.
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