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Gemidão francês era proibido no Brasil há 50 anos

Serge Gainsbourg e Jane Birkin causaram em 1969 com 'Je t'aime... moi non plus'

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Por Edmundo Leite
Atualização:
Serge Gainsbourg eJane Birkin, intérpretes da proibidona'Je t'aime... moi non plus' Foto: Acervo Estadão

Depois de tudo o que aconteceu nos anos 60, ninguém esperava que no último ano daquela década uma música vinda da França causasse tanto furor. Quando os primeiros acordes de  'Je t'aime... moi non plus' começaram a tocar nos rádios em 1969, não houve quem ficasse impássivel. Com o seu tecladinho e a letra do diálogo de um casal sussurada, a música é daquelas que pega na primeira audição. Quando, no meio da música, as falas do casal ficam mais lânguidas e surgem os gemidos da mulher, a incredulidade era geral. Tanto de quem gostou, quanto de quem não gostou. É isso mesmo?

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A obra-prima composta pelo cantor Serge Gainsbourg e gravada junto com sua estonteante namorada Jane Birkin foi sucesso instantâneo. E a reação contra a música também. Em pouco tempo, a parceria do mais charmoso dos mal-diagramados com a atriz inglesa era acusada de obscena, ofensiva à moral pública e estava proibida em alguns países. Um deles, o Brasil, que vivia há cinco anos sob uma ditadura militar. Em 17 setembro de 1969, o Estadão noticiava "Proibida a canção Je t'aime":

"A exemplo do que já ocorrera na Espanha e na Itália, a canção 'Je t'aime, moi non plus'  foi proibida em todo o território nacional pelo coronel Aloisio Mulethaler, chefe do Serviço de Censura e Diversões Públicas do Departamento de Polícia Federal. O coronel mandou apreender todas as cópias da canção nas lojas de discos e responsabilizou a Companhia Brasileira de Discos por não ter providenciado a censura da letra".

O incômodo dos críticos e dos censores, no entanto, não estava escrito na letra, que não tinha nada demais em relação a outras músicas de amor mais calientes. O ponto G da questão eram os gemidos realísticos de Jane Birkin nos momentos de êxtase e que não precisavam de tradução alguma para ser entendidos em qualquer língua do mundo. Na Itália, os censores alegaram justamente isso para justificar a proibição: "A letra não chega a ser pornográfica, mas o que irrita são os gemidos e suspiros"

Notícias sobre a proibiçãoda música'Je t'aime... Mon non plus' Foto: Acervo Estadão

Aqui no Brasil, além de proibir as cópias nacionais do disco, a Polícia Federal pediu ao ministro da Fazenda, Delfim Netto, que instruísse as alfândegas a a impedir a entrada no País de discos estrangeiros sem que tenham sido aprovados pela censura, pois, segundo o ofício do general Bretas Cupertino, "nos últimos tempos verificou-se um afluxo considerável de discos contendo canções com texto imoral e efeitos sonoros eróticos, o que deve ser coibido"

Ouça Serge Gainsbourg e Jane Birkincantando 'Je t'aime... moi non plus' Foto: YouTube

Em nome da família - Na mesma notícia, o Estadão informava que o presidente da Associação Nacional de Associações Familiais, Sr. Moacir Cardoso de Oliveira, enviou ofício de apoio ao chefe da censura, coronel Aloysio Mulethaler, pedindo que prosseguisse na campanha contra os discos "condenáveis": "Congratulo-me com v. exa. em nome da família brasileira pela oportuna medida que vem de tomar no sentido de proibir, em todo o território nacional, a letra musical Je t'aime... Mon non plus, de Serge Gainsbourg e da apreensão dos respectivos discos, cuja difusão viria constituir  mais um verdadeiro atentado à moral pública e mais um doloroso elemento de perversão da moral familiar."

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Ainda que alguns discos fossem tirados de circulação, a tentativa de banir a música não funcionou. A proibição aumentou ainda mais o seu sucesso clandestino, com regravações e versões. Em 1973, um grande anúncio da Air France publicado no jornal brincava com o título da música: "Aproveite o próximo fim de semana para dizer à sua mulher: je t'aime, moi non pluis. In loco." 

Anúncio da Air Francebrincando com o título da música'Je t'aime... moi non plus'. Foto: Acervo Estadão
Página de 1986 comperfil e entrevistadeSerge Gainsbourg. Foto: Acervo Estadão

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