"Autêntico, polêmico, mordaz, provocativo, humano, imaginativo, sensível, controverso, refinado, irreverente, inteligente". Foi com essa sequência de 11 adjetivos que o Estadão anunciou a estreia da coluna 'Galeria' de Nirlando Beirão no Caderno 2 em março de 1991. "Com tudo isso, você só pode gostar de Nirlando Beirão. Sem isso, você gostaria do mesmo jeito", continuava o anúncio. Foi mais ou menos assim que vários amigos e colegas do jornalista referiam-se nesta quinta-feira a Nirlando Beirão, que se foi na véspera do feriado após anos lutando contra uma esclerose lateral amiotrófica.
Como escreveu Marco Aurélio Nogueira no ano passado, Nirlando Beirão tinha uma longa e vitoriosa trajetória na imprensa brasileira. Trabalhou na Última Hora, no Jornal da Tarde, no Estado de S. Paulo, em Playboy, Veja, Istoé e Carta Capital, entre tantos outros jornais e revistas. Transitou “por toda publicação que se possa imaginar”. "Seu texto sempre foi apreciado como um dos melhores."
Nogueira apresentava o jornalista através do livro 'Meus Começos e meu fim', no qual Nirlando combina as reflexões sobre a convivência com a enfermidade e as pesquisas que fez sobre um episódio marcante da história dos Beirão, que definiu a trajetória da família. "Um avô padre que um belo dia se apaixona e resolve se casar é um excelente assunto literário. Nirlando agarra o fato e o vira de ponta-cabeça, deixando fluir uma versão romanceada de jornalismo investigativo. Dá um show."
“Romance autobiográfico”, escrito com leveza, algumas pitadas de ironia, um pouco de amargura e bastante realismo diante dos efeitos práticos e existenciais de sua condição, é uma aula de resiliência. Mostra que a vida é mais forte e vibrante do que quer nos fazer crer o vão derrotismo. Tudo, no fundo, só acaba mesmo quando termina, para todos e cada um de nós."
Antes da coluna 'Galeria', Nirlando Beirão já havia colaborado com o Caderno 2 em 1986, assinando por alguns meses textos na coluna 'Antena', onde dividiu espaço, entre outros, com Caio Fernando Abreu. Numa delas, sob o título 'E você nem protocolou', brincou sobre os ofícios dos jornalistas e das secretárias:
"Mentem as cartilhas e os manuais de redação quando dizem que a matéria-prima de nossa festiva profissão é a notícia. Na verdade, o jornalismo é nero exercício de paciência. Surpreendi-me remoendo essa idéia, esta semana, no momento de praticar a sagrada missão do repórter: esperar. Esperava na ante-sala de um figurão e, à falta do que fazer, além de roer minhas unhas e ser informado, pela enésima vez, por um amarelecido exemplar da revista Visão, que Vicente Celestino morreu naquela semana, eu me entreguei à execução mental de uma intrincada oparação matemética, ao fim da qual, exausto mas envaidecido, cheguei à conclusão de que, somadas todas as horas de voadas por todos os pilotos da Ponte Aérea, elas não dão as minhas horas sentadas numa sala de espera. O número é impublicável..."
Relembre alguns textos de Nirlando Beirão no Estadão
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"O cidadão é um sobressaltado. Por leões e outros bichos. Como se ele estivesse sempre aprontando alguma." [leia a íntegra] .
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"Ele preparou um circo. Todo o conforto para a hora do futebol, que no fim nem viu." [leia a íntegra]
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"Esqueça Freud e interprete esse sonho à luz de dos fatos: veis er uma tourada!" [leia a íntegra]
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