Pierre Cardin: "Quando se quer revolucionar a moda não se vende mais nada"

Estilista deu entrevista ao Suplemento Feminino do Estadão em passagem pelo Brasil em 1966

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Por Edmundo Leite
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Um dos ícones da moda do século 20, Pierre Cardin [1922-2020] aparece nas páginas do Estadão desde os anos 50, quando seu nome começou a despontar em Paris. Em 1957, o Suplemento Feminino publicou um esquema [molde para costura] de um de seus modelos de vestido. "Pierre Cardin, o jovem costureiro parisiense que já vai se tornando tão conhecido pela elegância e originalidade de suas criações, oferece às leitoras deste Suplemento um esquema que lhes permitirá realizar um dos seus mais belo modelos."

Estadão 17/5/1957

Molde de vestido de Pierre Cardinno jornal de 17/5/1957 Foto: Acervo Estadão

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Alguns anos depois, em 1996, quando já estava consagrado artisticamente e comercialmente como um dos grandes nomes da moda mundial, o Suplemento Feminino o entrevistou durante sua passagem pelo Brasil para apresentar suas criações em couro na Fenac, a Feira Nacional do Couro.

Com o título "Cardin: o esotérico e realista ditador da moda", o texto descrevia a chegada do figurinista, como se chamavam os estilistas naquela época, e seu séquito a São Paulo e traçava um perfil dele em meio às respostas do estilista sobre o seu ofício: "Cardin (o artista) é mais uma personagem do que um figurinista (sem diminuir com isso seu grande talento de criador); desde declarações públicas e jornalísticas sensacionais, discussões e debates em programas de televisão, importantes encontros com pessoas famosas e influentes até um rumoroso noivado com Jeanne Moreau".

No altar e no pó "... A minha é uma terrível profissão, movimento-me no volúvel e frívolo mundo da alta costura em que seis meses do ano estamos sobre um altar e seis no pó. Sucesso e insucesso".

Moda para todos - "Revolucionar a moda? É grotesco. Quandos e quer revolucionar a moda são se vende mais nada. Que belo resultado. Comecei vestindo a gente de bem de Paris, depois segui uma evolução e e precisei descer. Agora visto todos, a gente comum e a classe privilegiada. Acho que no início da minha carreira era um doido, fechava os olhos e pensava na moda. Ah (suspirou) e o vestido criado como um monumento"! "Delírio, criação divina. E alterando um pouco a voz: Na realidade eu nunca havia sido muito pobre. Trabalhava dia e noite querendo atingir um alto nível e o que obitinha? Nada. Agora é diferente. Não penso mais que um vestido seja um monumento" (em tom amargo): "Sou um realista. Apenas nos lançamentos dou asas à fantasia, mas é o prestígio do criador, de ditador da moda e excentridade que devo manter e não posso desiludir os que estão na expectativa. O vestido é feito para divertir e dançar. É feito para ser vendido, quanto mais possível. Eu represento o espírito da minha época, portanto sou comerciante. Sou célebre, rico e tenho uma vida agradável; enfim decidi aproveitar as minhas idéias".

Esconde-esconde - "A moda é essencialmente um jogo de esconde-esconde que requer dois fatores: pudica e elegância. É um jogo existente desde os tempos memoráveis em que a de ontem a achamos feia, a de hoje bonita e a de amanhã surpreendente e impossível". [Leia a íntegra]

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Estadão 11/3/1966

Entrevista de Pierre Cardinno jornal de 11/3/1966 Foto: Acervo Estadão

Estadão 5/1/1969

Pierre Cardin na loja Dom José A Exposiçãoem São Paulo, 5/1/1969 Foto: Acervo Estadão

Estadão 18/8/1968

Moda de Pierre Cardin no Mappin, 18/8/1968 Foto: Acervo Estadão

Estadão 3/11/1968

Anúncio de coleção de Pierre Cardin na loja Old Englandna Rua Augusta, 3/11/1968 Foto: Acervo Estadão

>> Pierre Cardin no Acervo Estadão

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