Prats: o general que foi alicerce do governo Allende

Apenas 18 dias após a renúncia de Carlos Prats, o governo Allende foi derrubado pelos militares

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Por Liz Batista
Atualização:
 

Sob o governo de Salvador Allende, o Chile viveu em estado constante de tensão política. Mas, se algo pode ser apontado como o prólogo do Golpe Militar e da queda de Allende, em 11 de setembro de 1973, é a renúncia do general Carlos Prats . Em agosto daquele ano, Prats, que o ocupava o posto de ministro da Defesa e de Comandante do Exército chileno, deixou o governo.

 

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Tensões durante o governo Allende. Nas eleições presidenciais de 1970, Salvador Allende venceu com 36% dos votos, mas, sua taxa de rejeição chegou a 40%. Durante todo seu mandato essa oposição foi sentida através de constantes pressões sociais e políticas.

A situação econômica do país, que já estava em crise quando Allende foi eleito, se deteriorou durante sua administração. O programa econômico da Unidade Popular, coligação partidária que sustentou sua candidatura e depois seu governo, provocou uma retração nos investimentos privados nacionais e estrangeiros. Essa situação agravou a recessão.

A inflação no país fugiu ao controle, chegando a 180% ao ano. A classe trabalhadora chilena, setor que apoiava Allende nas ruas, não resistiu à alta do custo de vida e os sindicatos convocaram greves.

O Estado de S. Paulo - 18/2/1973 e  29/8/19173

 

Em meados de 1973 as tensões no Chile alcançaram seu ápice. Uma longa greve se instaurou na mina de cobre de El Teniente.  As desavenças entre o presidente e a Suprema Corte chilena se tornaram constantes. Um levante militar foi sufocado, pouco depois de chegar às portas do Palácio de la Moneda. Acusações de envolvimento de ministros e governadores com grupos radicais, tanto da direita quanto da esquerda, passaram a fazer parte do noticiário, assim como as demissões nos altos escalões. O movimento estudantil   inflamava as ruas. Eram frequentes as demonstrações de força de grupos rivais que terminam com a intervenção policial. Ações de censura, como o fechamento de jornais e prisões de jornalistas, eram denuciadas. Em meio a atentados terroristas  e aos incessantes rumores sobre o descontentamento das Forças Armadas, os conflitos generalizaram-se pelo país.

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Renúncia de Prats. Então, no dia 23 de agosto de 1973, Carlos Prats, que desempenhava papel central na contenção da crise, pediu demissão.

Num comunicado, publicado na edição do Estado de 24 de agosto daquele ano, anunciou sua renúncia aos cargos de ministro da Defesa e comandante do Exército e justificou sua decisão: “sempre considerei um dever de soldado de sólidos princípios não me constituir em fator de quebra de disciplina institucional e de afastamento do estado de direito, nem de servir de pretexto para os que querem depor  o governo constitucional.”

Sem Prats para coibir a sublevação da oficialidade contra o regime constitucional, em menos de um mês após sua renúncia, os militares tomaram o poder no Chile. 

 

Sobre Prats. Após o golpe, em entrevista publicada em 22 de setembro de 1973, a viúva de Allende declarou que não se surpreendeu com o papel de Pinochet no golpe; “esperava isso dele”. Na mesma ocasião, disse que o general não “inspirava  confiança como o general Carlos Prats, que estava totalmente de acordo com os programas da Unidade Popular."

Prats foi morto no dia 30 de setembro de 1974 em Buenos Aires, num atentado a bomba planejado pela polícia secreta do governo Pinochet.

 
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