Protesto contra tarifa deixou 4 mortos em 1958

Aumento na calada da noite causou paralisação do transporte e confronto no centro de SP

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Foto do author Edmundo Leite
Por Edmundo Leite , Rose Saconi e Carlos Eduardo Entini
Atualização:
 

No final de novembro de 1958, os paulistanos foram dormir com uma tarifa e acordaram com outra. E no final daquele dia, a cidade foi dormir com quatro manifestantes mortos, dezenas de feridos e 150 veículos depredados.

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Os usuários só ficaram sabendo do reajuste quando encontraram, na manhã do dia 30, cartazes nos pára-brisas dos ônibus e bondes com novo valor. Com o aumento na calada da noite, as tarifas de ônibus passaram de Cr$ 3,50 para CR$ 5,00, e dos bondes de Cr$ 2,50 para Cr$ 3,00.Ciente das possíveis reações, o prefeito Adhemar de Barros mandou colocar policiais armados em diversos pontos de ônibus da cidade. Nos dias das manifestações, Barros estava no Rio de Janeiro.

A primeira reação da população foi de reclamação. Mas às 10h30 começaram chegar notícias das primeiras paralisações de ônibus e bondes feitas por estudantes e que se estenderiam durante aquela jornada. Os alunos do Liceu Pasteur pararam um bonde no ponto final da Vila e outro foi impedido por alunos do Mackenzie na Rua Maria Antonia. 

Durante toda aquela manhã e tarde as manifestações foram pacíficas. Para provar, estudantes do Mackenzie montaram um tabuleiro de xadrez em frente a um bonde parado.

Mas as paralisações tomaram outro sentido durante o durante o entardecer, quando há mais procura por transporte. Os estudantes já tinham bloqueado a circulação dos ônibus na Avenida São João, o comércio baixou as portas e as vidraças do cine Olido foram estilhaçadas. Em várias regiões os manifestantes esvaziavam os ônibus, em outras, como na praça 14 Bis, os fiscais da extinta Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) instruíam os motoristas a mandar os ônibus para a garagem. 

Com os pontos de ônibus cada vez mais apinhados de gente, a Força Pública foi acionada para dispersar os manifestantes e liberar a circulação dos veículos da Praça da Sé e da Praça Clóvis, os terminais mais movimentados naquela época. Os soldados levavam além de munição real, balas de festim e bombas de efeito moral. Quando as tropas do Batalhão de Guardas e do Regimento de Cavalaria chegaram, em torno das 18 horas, foram recebidas com paus e pedras pelos manifestantes, e não puderam impedir que os ônibus fossem depredados e incendiados. Às 21 horas, sem conseguir dispersar a multidão, a tropa recebeu ordem de atirar para o alto. O resultado foram quatro mortos, três à bala, dezenas de feridos e presos. 

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Para esvaziar o centro, a prefeitura colocou caminhões da Cia. Mogiana, do Departamento de Águas e Esgoto (DAE) e do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) para transportar as pessoas gratuitamente. 

Autoridades. Somente às 21 horas, quando o movimento tinha dominado a cidade, as autoridades se reuniram no Palácio dos Campos Elísios. No encontro estavam o governador Carvalho Pinto, Quintanilha Ribeiro, chefe da Casa Civil e o secretário da Justiça, Pedroso Horta. Na saída do encontro, em entrevista à TV, Horta justificou o aumento lembrando que uma das promessas de campanha de Adhemar de Barros era sanear as contas da CMTC. E uma dessas medidas seria o aumento das tarifas. 

 

1957

2013

233 linhas(ônibus, trólebus e bondes)

1.321 linhas

1.653 veículos

(1.333 ônibus - somente 821 funcionando; 110 ônibus elétricos; 210 bondes)

15.025 veículos

52 milhões passageiros/mês (abril de 1957)

944.939.722passageiros/mês(abril 2013)

622 milhõespasageiros/ano(1957)

2.916.954.960passageiros/ano(2012)

Atualizado em 16/6 às 12h41

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