PUBLICIDADE

Revolução de 24: guerra em SP por reformas políticas

Movimento que exigia fim das oligarquias políticas, e deixou 500 mortos na cidade, completa 90 anos

Por Liz Batista
Atualização:

Externato Mattoso, na Mooca, metralhado. Durante a Revolução de 1924, aviões despejaram bombas em várias regiões.Acervo/Estadão

Nas primeiras horas de 05 de junho de 1924, São Paulo acordou em guerra. O Movimento Tenentista, que durante a década de 1920 mobilizou jovens oficiais do Exército contra as oligarquias políticas, deflagrava na capital paulista sua segunda revolta. A primeira ocorreu dois anos antes, no Rio de Janeiro. A Revolução Paulista de 1924, deixou um rastro de destruição pela cidade e um saldo de 5 mil feridos e mais de 500 mortos, na maioria civis.

A tomada da cidade. Por sua localização estratégica, com grande entroncamento de ferrovias e rodovias, e por ser o maior centro industrial brasileiro, a capital paulista foi escolhida pelos líderes tenentistas como ponta de partida para sua insurreição. Buscavam atrair atenção para sua causa e, a partir de São Paulo, incitar o levante em outras capitais desencadeando uma mobilização por todo o País para derrubar o presidente Artur Bernardes. Sob o comando do General Isidoro Dias Lopes, os revolucionários iniciaram o movimento de ocupação da cidade com a tomada do 4.º Batalhão de Cavalaria de Santana. Em seguida, tomaram diversas posições estratégicas e outros bastiões da defesa governista. De suas posições no Campo de Marte, os tenentistas bombardearam a residência oficial do presidente do Estado, Carlos de Campos, o Palácio dos Campos Elísios. As tropas fiéis ao governo reagiram. Para conter o levante, autorizou bombardeios aéreos à cidade para desalojar os tenentistas. São Paulo é a única cidade brasileira que sofreu bombardeio aéreo.

As marcas do conflito. Durante 22 dias a capital dormiu e acordou em meio a tiros e bombardeios. Um terço da população paulistana deixou a cidade em busca de segurança. O próprio presidente do Estado refugiou-se no interior. Trincheiras foram abertas na Avenida Paulista, no Brás, no Belenzinho, na Vila Mariana, em Perdizes, no Ipiranga, na Vila. No primeiro bombardeio com vítimas, o Liceu Coração Jesus, que serviu de refúgio para a população desabrigada pelo conflito, teve o telhado de suas oficinas destruído por um tiro de canhão.

Ocupada pelos rebeldes, a Igreja Nossa Senhora da Glória, no Lavapés, foi praticamente destroçada. Temendo que trabalhadores engrossassem as fileiras dos revoltosos, as forças do governo bombardearam bairros operários, como a Mooca e Brás. Famílias inteiras morreram dentro das casas atingidas. Até hoje pode-se ver as marcas dos bombardeios de 1924, os buracos de tiro de canhão na parede da chaminé da antiga usina termoelétrica na Rua João Teodoro, na Luz.

Com sua resistência comprometida, em 28 de julho de 1924, Isidoro Dias Lopes e as remanescentes forças tenentistas deixaram a cidade e retiraram-se para Bauru.

Censura. Durante o conflito, os revolucionários permitiram que o Estado permanecesse em circulação, mas sob censura. Com a retomada da cidade pelos governistas, o jornal, que já havia elogiado em seus editoriais o idealismo do movimento tenentista e mantinha uma postura crítica em relação aos governantes do Partido Republicano Paulista e à administração federal, sofreu as consequências por manter uma posição de neutralidade. No dia 29 de julho de 1924, Julio Mesquita, diretor do jornal, foi preso e enviado para o Rio de Janeiro. O Estado teve sua circulação suspensa por 12 dias, só voltou às ruas em 17 de agosto daquele ano.

Publicidade

Homenagem aos 18 do Forte. A data do início do conflito em São Paulo foi cuidadosamente escolhida para homenagear o primeiro levante tenentista, ocorrido exatamente dois anos antes no Rio de Janeiro, no episódio conhecido como a Revolta de 1922. Conhecida também como a Revolta dos 18 do Forte, foi o primeiro movimento militar armado que pregava o fim do monopólio das oligarquias paulistas e mineiras no poder e questionavam a vitória do mineiro Arthur Bernardes nas eleições presidenciais de 1922 .

PUBLICIDADE

A Revolta de 1922 serviu para mostrar o descontentamento de militares com a  política do País. Em 1924, a revolução que se ergueu em São Paulo começou a desenhar um projeto político tenentista mais claro. Em sua lista de demandas, além da deposição do Presidente da República, estavam um conjunto de reformas políticas que visavam a moralização do sistema político. Pediam maior independência do Legislativo e do Judiciário, limitações para o Poder Executivo, o fim do voto de cabresto, a adoção do voto secreto e a instauração do ensino público obrigatório. 

 

# Siga: twitter@estadaoacervo | facebook/arquivoestadao | Instagram | # Assine

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.