Watergate e a discussão sobre liberdade de imprensa
Caso marcou o embate entre imprensa e Executivo na maior democracia do mundo
16 de junho de 2012 | 19h 11
Há
40 anos, o arrombamento e invasão à sede Comitê
Nacional Democrata e a captura dos cinco infratores, no edifício
Watergate, em Washington parecia um crime banal e muito mal
executado. Mas a investigação iniciada por dois repórteres do
Washington
Post ,Bob Woodward e Carl Bernstein,
acabou
por revelar uma rede de espionagem, conspiração e sabotagem
política comandada por assessores estreitamente ligados ao
presidente Nixon e financiada por fundos da campanha eleitoral de
reeleição do Partido Republicano.
Katerine
Graham, editora chefe do Washington Pots, entre Carl Bernstein e Bob
Woodward, a dupla de repórteres que investigou Watergate / Foto:
Reprodução
O
governo Nixon, vitorioso nas eleições presidenciais de 1972,
esperava que após a disputa eleitoral o caso fosse esquecido pela
mídia e se esvanecesse da memória do público. Mas a insistente
busca dos jornais por esclarecimentos parecia a reedição de um
embate que marcou a administração Nixon, a disputa entre imprensa e
Poder Executivo. No primeiro mandato do republicano o vazamento e
publicação de documentos secretos que envolviam assuntos de
Segurança Nacional,conhecidos como Documentos do Pentágono, abalou
o prestígio e a credibilidade da Presidência junto à opinião
pública e teve danosas implicações diplomáticas.
Novos
fatos e depoimentos trazidos à tona por investigações
jornalísticas mostravam que a ação no QG democrata era apenas uma
pequena parte de um esquema de monumentais proporções que implicava
o próprio presidente. O pessoal de Nixon passou a temer o potencial
destrutivo do escândalo Watergate.
Na
mesma medida em que a Casa Branca negava o envolvimento de seu
pessoal, empregava esforços subsequentes para encobrir o caso ,
silenciar a imprensa e impedir que a Justiça seguisse seu curso
normal. O presidente perdia credibilidade junto ao público e apoio
político no Congresso. Em 1973, a investigação conduzida no
Senado revelou que o presidente Nixon mantinha um sistema secreto e
legalmente questionável de gravação de conversas. Foram elas as
provas de sua interferência direta no rumo das investigações.
Nixon
foi formalmente acusado de abuso de poder, desacato às ordens
judiciais e obstrução da Justiça. Sob a ameaça de impeachment,
renunciou em 9 de agosto de 1974.
Watergate
no Estadão
O caso watergate sucitou embate entre a imprensa e o Executivo na maior democracia do mundo e a discussão sobre os limites dos poderes presidenciais, eram temas presentes nos jornais do mundo todo. Watergate ao mesmo tempo que dilacerou a credibilidade do governo Nixon e levantou questões sobre a estrutura formal e informal do poder da Presidência e testou os princípios democráticos e constitucionais da América.
No
Brasil, o Estadão sob a censura do governo militar (com censores
instalados nas Redações), a cobertura do escândalo Watergate e as
medidas tomadas para abafá-lo possibilitaram a discussão em torno
de temas vetados pelos censores. Liberdade de imprensa, tema proibido
às editorias nacionais, se tornou uma pauta constante na editoria
internacional.
Através
do noticiário da crise político institucional americana, o jornal
encontrou meios de reafirmar sua defesa da liberdade de imprensa e
expressão.
Em
seu editorial de 04/5/1973 enumerou “lições eloquentes para todos
os países que se acham na fase de convalescença democrática”. Tratando da importância de uma imprensa livre de “peias e de
coações", expressou uma preocupação nacional ao perguntar “o
regime em que vivemos estaria a exigi-lo com a premência das
necessidades inadiáveis. Saberemos nós assimilar?”
Gozando
de uma das poucas prerrogativas concedidas pelos censores do regime,
a de criticar governos de esquerda, em 12/5/1973, ao comparar a
imprensa dos EUA e da URSS disse que “enquanto os jornais
norte-americanos transmitem a opinião pública, os jornais
soviéticos ensinam a verdade do regime.”
Ampliando a questão para
além das duas nações em pauta, talvez para aqueles leitores que
viam anúncios e poemas onde deveria haver uma informação ou a
opinião do jornal, sua posição sobre o jornalismo praticado numa
Nação livre “a
essencial diferença entre a democracia e o regime totalitário é
exatamente esta: na democracia, a sociedade, a política e a
diplomacia do regime são abertas e publicas, ao passo no regime
totalitário são fechadas e secretas.”