Manuel Francisco dos Santos
28/10/1933, Magé (RJ) – 20/1/83, Rio de Janeiro (RJ)
O “Anjo das pernas tortas”, poema de Vinícius de Moraes descreve a arte do jogador, Manuel Francisco do Santos, que foi um poeta dos campos de futebol. Chamado de Garrincha desde garoto por sua irmã (em alusão a um passarinho típico da região onde viviam) nasceu com as pernas tortas “arqueadas” que de defeito viraram qualidade. Destacou-se ainda jovem, como jogador de futebol e caçador de pássaros. Arranjou um emprego numa fábrica de tecidos, onde o pai também trabalhava. Entrou primeiro para um time amador de futebol e, após essa experiência, tentou ingressar no Flamengo, no Fluminense e no Vasco, mas foi rejeitado.
Decepcionado com as rejeições, Garrincha foi finalmente convidado a participar de um teste no Botafogo. Seu desempenho, que surpreendeu o técnico, lhe rendeu um lugar no time. Nilton Santos, Zagallo e Didi eram apenas algumas das estrelas que compunham um dos melhores times que alvinegro já teve. Após ser driblado por Garrincha, a “enciclopédia do futebol”, Nilton Santos teria dito ao técnico “contrate logo esse homem. Prefiro tê-lo ao meu lado do que como adversário.”
Jogou pelo Botafogo por grande parte de sua carreira, entre 53 e 65. Com destaque no clube, foi convocado pela primeira vez para a seleção brasileira em 55. Em 1957, foi campeão carioca e, no mesmo ano, participou do campeonato Sul-Americano de futebol.
Na copa de 1958, na Suécia, em uma partida contra a União Soviética, Garrincha se consagrou como jogador e declarou ter tido seu melhor desempenho. Jogou ao lado de craques como Zagalo e Didi (companheiros de clube), Vavá, e especialmente Pelé, com que formou uma dupla imbatível. Juntos em campo nunca perderam um jogo. Além das jogadas também exerceu seu dotes de namorador, tendo um caso amoroso durante o mundial e deixando um filho.
O auge do “Mané”, contudo, veio com o gol que fez contra o Chile na copa de 1962. Bicampeão mundial, Garrincha foi ovacionado pelos torcedores. Seu time, o Botafogo, foi campeão carioca mais duas vezes, em 1961 e 1962. Em junho de 62, Mem de Sá, na época senador, recomendou que Garrincha fosse nomeado primeiro-ministro, dizendo que seria “a melhor solução para a união nacional”. Em 1963, surgiram os problemas no joelho. Garrincha temia que uma operação pudesse reduzir seu desempenho no campo, e tentou evitá-la até março de 1965. Em 1966, Garrincha veio para São Paulo jogar no Corinthians. Chegou como grande esperança da torcida para acabar com o jejum do time, que já durava 11 anos. Quando desembarcou em São Paulo, desfilou em carro aberto sendo ovacionado pela “fiel”. Entretanto acabou sendo uma decepção. Realizou apenas algumas partidas e deixou o time alguns meses depois. A estreia do jogador foi reflexo do que seria sua curta passagem pela capital paulista: no Pacaembu lotado o Corinthians foi derrotado por 3 a 0 contra o Vasco. Começava a fase de decadência profissional do “Anjo”. Passou rapidamente por times como Flamengo, Portuguesa, Red Star e Bangu. Foi constantemente internado por crises nervosas e alcoolismo. Casou-se pela primeira vez em 1952, e separou-se de sua primeira mulher, Nair Marques, em 1964. Com ela teve oito filhas, mas não compareceu a seu enterro anos mais tarde, evento que deixou a comunidade de Pau Grande profundamente desgostosa. Iniciou um novo romance em 1962, com a cantora Elza Soares. Nessa época, alegou-se que ela era a única pessoa que ainda se importava com ele. Teve treze filhos no total. Por causa do alcoolismo, morreu de cirrose. Jogou predominantemente como ponta-direita. Marcou 17 gols em 61 partidas pela seleção, tendo perdido apenas um jogo vestindo a camisa do Brasil. Pelo Botafogo é considerado o maior craque que já vestiu a camisa do clube, tendo disputado 608 partidas marcando 245 vezes. É lembrado, sobretudo, pelo estilo de seus dribles, derrubadores de zagueiros com seu gingado solto e irreverente.
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