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Bebida

Mulheres do Rhône se unem pelo vinho e contra machismo

Produtoras de 31 vinícolas de norte a sul do vale do Rhône querem provar que seus vinhos têm a mesma potência que os feitos por homens

Produtoras que fazem parte da associação reunidas em vinícola de Gigondas. Foto: Isabelle Moreira Lima|EstadãoFoto: Isabelle Moreira Lima|Estadão
Produtoras que fazem parte da associação reunidas em vinícola de Gigondas Foto: Isabelle Moreira Lima|Estadão
Françoise Roumieux, quinta geração em Châteauneuf du Pape Foto: Isabelle Moreira Lima|Estadão

Pouca e ótima ​

Ano após ano, o Rhône tem se mostrado uma opção certeira de vinhos de qualidade, com safras excepcionais e abundantes. Em 2017, a coisa foi um pouco diferente: a região sofreu o efeito de fenômenos climáticos, geada, granizo e seca, que provocaram uma quebra de safra de até 60% em alguns crus. E o curioso é que deve entrar para a história da região em termos de qualidade.

Vinho de cinema

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Quando visitar o belíssimo Château la Canorgue, em Luberon, fica a dica: jamais peça para tirar foto da casa da família; foque no vinho. Nathalie Margan, que largou a carreira de jornalista internacional para assumir o negócio, fica doente com a cara de pau de visitantes atraídos pelo cenário do filme Um bom ano (Ridley Scott, 2006) e que ultrapassam qualquer limite de civilidade ao invadir sua propriedade. (Fui testemunha ocular de um caso, ocorrido assim que ela terminou de contar sobre a frequência das invasões). E mais: perdem o que há de melhor ali, o vinho. O Château La Canorgue 2015 tinto (R$ 155 na Belle Cave), um corte de Syrah, Grenache, Carignan e Mourvèdre, tem elegância e frescor tão grandes que fazem desconfiar que a vinícola seja realmente no sul do Rhône – onde o calor e a insolação remetem à potência. No Brasil, também se encontra o rosé (R$ 155), ótimo para o verão. Minha visita incluiu uma microaula de enologia e prova de vinhos de quatro tanques, com uvas colhidas ao longo de dois meses, com distinção de sabor e aroma marcantes.

Nathalie Margan, do Château La Canorgue Foto: Château La Canorgue

​Cru novinho

Sabine Thompson, que comanda o Domaine l’Ameillaud, em Cairanes, uma das denominações de origem mais interessantes do coração do sul do Rhône, alçada a status de cru apenas no ano passado, entrou na aventura da vitivinicultura nos anos 1980, quando começou a transformar a propriedade do avô, então uma vinícola de vinhos de baixa qualidade, em uma casa de vinhos finos com personalidade. O trabalho de 15 anos compreendeu eleger as melhores castas, criar os cortes e a marca e abrir mercados. Em 1997, comprou a totalidade da propriedade. O melhor cartão de visitas dessa história é o rótulo vendido no Brasil, importado há 20 anos pela Cellar. L’Ameillaude Rhône Villages Cairanne 2012 (R$ 80), um corte de Grenache (60%), Syrah, Carignan e Mourvèdre de vinhas de 45 anos, que mescla fruta negra madura e suculenta com mineralidade. Além dos vinhos, a vinícola oferece hospedagem dos sonhos para turistas.

Sabine Thompson, que transformou a vinícola da família Foto: Domaine L'Ameillaud

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​De manual

O Vignobles Mayard, de Françoise Roumieux, parece um cartão postal de Châteauneuf-du-Pape: sua sede fica no centro da cidade em um castelo reformado do século 17; e seus vinhedos estão plantados no solo pedregoso e árido típico da região com a grenache cultivada em vaso (goblet) em vez do sistema de espaldeira. E sofre na pele tudo o que o boletim de safra da denominação mais célebre do Rhône registra. Neste ano, por exemplo, teve muita qualidade e pouco rendimento graças a fenômenos como geada e granizo na primavera. Depois, com estiagem desde abril, passou a irrigar os vinhedos – algo que afirma com uma cara de “o que se pode fazer?”.  Roumieux, da quinta geração da família, faz hoje três vinhos tintos e um branco. No Brasil, é possível encontrar Clos de Calvaire 2015 (R$ 299 na Belle Cave), de longuíssima estrutura tânica, onde a Grenache é a protagonista; e Le Crau de Ma Mère 2012 (R$ 405), alegremente discreto com fruta elegante no nariz e, na boca, complexidade de sabor – é doce, picante, adstringente e longuíssimo. “Se o vinho é feito por homem ou mulher, pouco importa. Uma degustação às cegas, por exemplo, jamais indicaria o gênero do produtor”, defende Coralie Goumarre, do Domaine Galévan, uma das personalidades mais impetuosas e doces ao mesmo tempo do grupo de mulheres do Rhône. 

​Doce e impetuosa

Ela comanda um domaine de 60 hectares com vinhas de 55 anos de Grenache, Mourvèdre, Syrah, Cinsault e Carignan entre as tintas e Clairette, Grenache Blanc, Roussanne, Marsanne e Bourboulenc para os brancos. No Brasil, vende seu vinho de entrada, o Domaine Galévan Paroles de Femme 2014 (R$ 125 na Belle Cave), uma bebida deliciosa no aroma (fruta e pimenta) e no sabor, com taninos e adstringência intensa. Por aqui também pode-se provar seu Châteauneuf-du-Pape branco 2014 (R$ 430), um corte de 80% de Grenache Blanc e 20% de Clairette, Bourboulenc e Roussane, que é ao mesmo tempo frutado, floral e mineral. Uma boa raridade.

Coralie Goumarre, primeira mulher em nove gerações a comandar o Domaine Galévan Foto: Brice Toul

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