Terroir. No alto da vinícola Guaspari, em Serra da Vista, em São Paulo. FOTOS: Marcel Miwa/Estadão
Na contramão dos vinhos comuns produzidos no interior do Estado, que usam uvas híbridas, a vinícola importou mudas francesas como as tintas Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e Syrah e as brancas Sauvignon Blanc, Viognier e Chardonnay. São 50 hectares de vinhas em uma paisagem singular: parcelas de cafezais e vinhedos lado a lado dividindo os campos. O viticultor chileno Cristian Donoso conta que o primeiro passo da vinícola foi aprender com os cafezais. Já se sabia que nas áreas onde está o café não há geadas. Por isso os vinhedos estão em encostas vizinhas aos cafezais.
A altitude também explica, em boa parte, o sucesso no plantio das videiras. As 12 parcelas de vinhedos (cada um dos 12 terroirs são chamados de vista) estão entre 850 e 1.300 metros de altitude, em meio à Serra da Mantiqueira, onde a temperatura é amena durante o dia, entre 25°C e 28°C, e fria à noite, com temperaturas abaixo dos 15 °C. O solo granítico e arenoso, com pedras de quartzo que facilitam a drenagem, não tem excesso de nutrientes. E, mais importante, em caso de chuva em excesso, a água escoa facilmente para o subsolo. As chuvas são mais frequentes durante o verão; por isso, a solução foi inverter o ciclo da videira. Por meio de um controle com podas a videira é forçada a frutificar no inverno, época em que o clima é seco e ensolarado. Enquanto em regiões tradicionais o frio do inverno força a videira a hibernar, em Espírito Santo do Pinhal, esse descanso é forçado pela poda. Com isso, a colheita ocorre entre julho e agosto, com menos riscos climáticos.
Ovo. No tanque de cimento fermenta a Sauvignon Blanc
Após concluir os estudos de geologia e clima, e comparar os resultados a outras regiões vinícolas, os técnicos contratados constataram que o perfil da região está próximo a Côtes du Rhône, na França, e Barossa Valley, na Austrália.
Daí, talvez, o sucesso com a Syrah. Por outro lado, a Merlot e a Malbec não deram o resultado esperado e devem ser replantadas.
O enólogo consultor é o norte-americano Gustavo Gonzalez, ex-enólogo da Robert Mondavi Winery e hoje proprietário de vinícola na Califórnia. Ele montou um laboratório, uma linha de engarrafamento e instalou na vinícola tanques e barricas de primeira linha. Tem até o badalado tanque de cimento em formato de ovo, ali usado na fermentação do vinho Sauvignon Blanc. O Syrah amadurece em barrica de carvalho francês de uma linha especial da Taransaud (T5), que custou R$ 4.500.
A boa notícia é que os vinhos correspondem aos caprichos da vinícola. Provei o Syrah Vista do Chá 2012 e acho que é um dos melhores vinhos produzidos no Brasil. A uva Syrah é apresentada com sua faceta floral, com textura aveludada, ótimo frescor, álcool que mal se nota e sutil tostado no final. Elegante e agradável. O Syrah Vista da Serra 2012 caminha em outra direção, com perfil aromático mais frutado (frutas negras maduras), pimenta-negra, taninos potentes e abaunilhado evidente. Um estilo ambicioso que precisa de mais tempo de garrafa.
Entre os brancos, o destaque foi o Sauvignon Blanc 2012, parte fermentado em tanques de inox, parte em barricas e parte nos ovos de cimento. Lembra alguns bons vinhos chilenos, com aroma de pimenta-verde, limão e grapefruit. A acidez intensa é complementada por sutil toque salino que lhe dá caráter e personalidade.
Os primeiros resultados apresentados pela Guaspari impressionam, especialmente o Syrah e o Sauvignon Blanc. O mesmo não ocorre com o branco Chardonnay e o tinto Pinot Noir, vinhos que mesmo já vinificados e engarrafados ainda não chegaram ao padrão desejado e por isso não serão comercializados.
Os preços ainda não foram definidos mas a vinícola informa que a garrafa deve ficar próxima dos R$ 100.