As denominações de origem são um marco na história do vinho moderno. Criada na França na década de 1930, lá chamada de appellation d’origine contrôlée, com a sigla AOC, as denominações foram importantes para moldar a qualidade do vinho europeu.
Primeiro definiram que os vinhos de cada AOC (ou DOC, na sigla em português, que quer dizer denominação de origem controlada) só podem ser elaborados com uvas da sua região (antes disso, uvas e vinhos podiam ser mesclados sem respeitar a sua procedência).
Também há regras para as variedades que podem ser cultivadas, para o rendimento máximo por hectare e demais pontos que ajudam a garantir a identidade de cada região.
São um selo seguro de procedência do vinho e das regras básicas de sua elaboração, mas não são, necessariamente, sinônimos de qualidade. Tanto que atualmente vários produtores lutam para sair das AOCs e, assim, terem mais liberdade para elaborarem os seus vinhos.
Os países do Novo Mundo (ou seja, que estão fora da Europa) vivem um movimento oposto, que revela o atual estágio de sua indústria vitivinícola. As novas regiões vinícolas batalham para ter a sua própria denominação de origem, aqui chamada apenas de DO, como forma de trazer credibilidade e maior conhecimento sobre os seus vinhos. “O primeiro a ganhar é o consumidor, que terá um vinho com garantia de origem e de qualidade”, afirma Valter Pötter, presidente da Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha.
A Campanha Gaúcha é a mais nova região brasileira a ter a sua IP (Indicação de Procedência). Outras seis regiões vinícolas já contam com uma IP, como Pinto Bandeira e Farroupilha. A almejada DO, por enquanto, só foi concedida para o Vale dos Vinhedos. Para chegar a IP, foram precisos cinco anos de pesquisa sobre as características da região. Apenas em maio passado, em plena quarentena, a IP da Campanha foi concedida pelo INPI. Agora, nesta semana, os 18 produtores da associação estão realizando uma série de degustações com formadores de opinião para divulgar a IP e suas regras.
Pötter imagina um longo caminho até a DO. A Campanha é a segunda maior produtora brasileira de vinhos finos, com 1.600 hectares de vinhedos, espalhados em uma área de 44 mil km², que faz fronteira tanto com o Uruguai como com a Argentina. Ainda é preciso tempo para que cada pequena sub-região da Campanha descubra as suas vocações vinícolas e batalhe por uma DO. Mas este é o caminho natural de todas as regiões produtoras.
Pelas regras da IP, por exemplo, são permitidas o cultivo de 36 variedades. A Tannat é a mais conhecida e dá origem a vinhos de qualidade. Um exemplo é o Guatambu Rastros do Pampa Tannat (R$ 68 no guatambu.com.br). Mas há outros vinhos em estilos muito diferentes. O Routhier & Darricarrère, Marie Gabi Rosado, elaborado com a cabernet sauvignon (R$ 67, na cavenacional.com.br), e o Quinta do Seival Castas Portuguesas, da Miolo (R$ 112,50, no site da Miolo) são alguns deles.