A OIV, sigla para Organização Internacional da Vinha e do Vinho, concentra as estatísticas do mundo do vinho. Na semana passada, a entidade divulgou seu balanço relativo ao ano de 2020 e colocou o Brasil em destaque. Mesmo com o nosso baixo consumo per capita – segundo a entidade, foram bebidos 2,6 litros de vinho por habitantes maiores de 15 anos em 2020 por aqui –, o Brasil foi o país que mais cresceu nesse consumo. Foram 18% mais vinhos em 2020 do que no ano anterior. Detalhe: em 2020, o consumo mundial dessa bebida caiu 3%.
O aumento do Brasil contrastou com demais países. A China, por exemplo, registrou queda de 17%. A África do Sul teve retração ainda maior, de 19%, resultado de o país ter proibido o consumo de bebidas alcoólicas durante a pandemia. Em segundo lugar de crescimento está a Itália com 8% e, em terceiro, a Argentina, com 7%. Os dados indicam, ainda, que a produção brasileira de vinho aumentou 71,6% no ano passado, em relação a 2019, e que a tendência de crescimento continua em 2021.
Pau Roca, diretor geral da OIV, afirma que o consumo de vinho no Brasil cresceu por causa do e-commerce. Numa análise mais detalhada, sabe-se que não foi apenas a venda online que causou esse aumento de consumo. Os supermercados foram um canal importante para a venda de brancos e tintos no ano passado. A desvalorização do real frente ao dólar também contribuiu para a comercialização crescente dos rótulos brasileiros, motivado pelo ganho de qualidade da nossa bebida. Em casa, o brasileiro elegeu o vinho como a bebida para acompanhá-lo, ao menos, no primeiro ano da quarentena.
Para 2021, o Brasil segue com tendência de alta no consumo do vinho, segundo a entidade. Dos sete países do hemisfério sul analisados pela OIV, apenas Argentina e Nova Zelândia têm tendência de queda. Austrália, Chile, África do Sul e Uruguai são os demais países com tendência de alta de consumo nesse ano, segundo a organização.
O desafio é saber o que vai puxar o consumo de vinhos nesse ano. Por enquanto, no primeiro trimestre, o que vem crescendo no Brasil é a importação de brancos e tintos, principalmente do Chile e de Portugal. Segundo a Ideal Consulting, a importação de rótulos estrangeiros aumentou 35,5% nesses três meses, em relação à igual período do ano anterior. No caso do vinho brasileiro, que foi o principal motor do crescimento do setor em 2020, houve uma queda de 12,7% no primeiro trimestre. Aqui, a explicação principal é a falta de garrafas e embalagens de papelão, que impede o envaze e a consequente venda de vinho, principalmente dos rótulos mais simples.
Há também o imponderável: no ano passado, em casa, os brasileiros tomaram muito vinho, mas escolheram os rótulos mais baratos. Um exemplo é que o preço médio da caixa de 9 litros, que equivale a 12 garrafas de 750 ml, passou de US$ 27,8 para US$ 24,9, nos valores FOB. A aposta é que esse também deve ser o caminho para 2021.