A mais antiga vinícola em atividade no Brasil, a Salton lança, no próximo dia 25 de agosto, 110 garrafas de seu novo vinho premium, o Septimum 110. Elaborado com sete variedades de uvas da safra de 2018, o tinto marca o aniversário de 110 anos da fundação da vinícola, em 1910, pelos sete filhos do imigrante italiano Antonio Domenico Salton.
Este primeiro lote chega ao mercado com preço de R$ 190. As demais garrafas (ao todo são 11.196 unidades, todas numeradas) serão lançadas apenas no final do ano. “O vinho ainda precisa de um tempo em garrafa. Preferimos lançar o lote todo quando ele estiver pronto para beber”, afirma o enólogo Gregório Salton, da quarta geração da família. Marselan, Merlot, Cabernet Sauvignon, Tannat, Alicante Bouschet, Ariarnoa e Cabernet Franc, todas de vinhedos da região da Campanha, são as sete variedades deste vinho.
O tinto também marca uma ousadia da vinícola. Pela primeira vez na Salton, um vinho premium foi envelhecido em barricas de carvalho de segundo uso. Em geral, os vinhos topo de gama amadurecem em barricas novas, que passam as notas da madeira para a bebida e ajudam a arredondar seus taninos.
Barricas usadas não transmitem as propriedades da madeira ao vinho e, não raro, significam vinhos menos potentes e mais elegantes. É interessante ver uma vinícola nacional partir para este caminho. A diminuição do uso de madeira nova já é fato em várias vinícolas de destaque no mundo, neste caminho de vinhos não tão potentes e muito extraídos (só faço a ressalva aqui que ainda não provei este vinho).
Esta, digamos, ousadia da Salton acontece em um momento de alta do vinho brasileiro. Dados da Uvibra, a União Brasileira de Viticultura, tabulados pela equipe gaúcha da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-RS), mostram o aumento do consumo da bebida nacional.
No primeiro semestre deste ano, as vendas de vinho fino brasileiro (aqueles elaborados com uvas viníferas) cresceram 66,4% na comparação com igual período do ano passado. Se analisado apenas o período da quarentena, de abril a junho, a alta foi de 86,4%. Ao todo, 10,8 milhões de litros de vinho fino brasileiro foram consumidos nos primeiros seis meses do ano.
É de se notar, também, um aumento do consumo dos chamados vinhos de mesa, aqueles elaborados com uvas não viníferas, como a niágara, a isabel, entre outras. Nos dados da ABS-RS, o aumento da comercialização do vinho de mesa foi de 29,1% na comparação do primeiro semestre de 2020 com o do ano passado, com 100 milhões de litros de vinho.
Vários fatores explicam este crescimento. O principal deles é o aumento da qualidade da produção nacional. Também importante é o esforço das vinícolas brasileiras de levarem sua produção para o mercado consumidor. Muitas delas estão investindo na venda online, o que facilita adquirir estes rótulos (a distribuição fora das regiões vinícolas é um dos gargalos da produção nacional).
O fator econômico pesa muito. Com a desvalorização do real frente ao dólar e ao euro, os brancos e tintos importados estão ficando mais caros. Reajustes são esperados a cada desembarque de novas safras nos portos, o que deve acontecer, com força, neste segundo semestre. Esta pressão do câmbio abre muito espaço para as vinícolas brasileiras, com a maioria dos seus custos em reais.
É esperar que elas aproveitem esta oportunidade, sem perder o foco na qualidade. E comemorem as vendas crescentes, assim como Salton está comemorando o seu aniversário.