PUBLICIDADE

O sonho atômico brasileiro

Da visita de Oppenheimer, físico que dirigiu o Projeto Manhattan, à declarada busca pela bomba

Por Liz Batista
Atualização:

Hoje uma possibilidade acessível, mas não desejada, a obtenção da bomba atômica pelo Brasil já foi um sonho e uma meta. Mas, mesmo quando o Brasil adotou uma política mais agressiva no plano externo, negando acordos que limitassem a exploração do átomo, frequentemente no plano interno as verbas, planos e projetos distanciaram o País de obter condições de manipulação do átomo em benefício de seu desenvolvimento.

PUBLICIDADE

Na década de 50, o mundo vivia a Era Atômica e o temor da guerra e da aniquilação atormentava nações. Quando o monopólio do átomo ainda pertencia aos Estados Unidos, aos soviéticos e aos britânicos, em visita ao País o Prof. Julius Robert Oppenheimer, o célebre físico americano que dirigiu o Projeto Manhattan, para obtenção da bomba nuclear durante a Segunda Guerra Mundial, declarou, em 1953, que o País poderia em breve criar sua bomba atômica . 

 

Em matéria publicada no Estado do dia 08/7/1953 Oppenheimer considerava o fato do País lutar contra a falta de energia elétrica sem possuir minas de carvão nem indústria petrolífera forte e endossava o interesse brasileiro pela produção de energia atômica. Oppenheimer acreditava que o Brasil estaria entre as potências com segredo atômico, já que era a nação sul-americana com pesquisas mais adiantadas no campo atômico.

Apesar da otimista previsão, nesse período o Brasil caminhou pouco nessa direção. E, mesmo com poucos recursos, a Comissão Nacional de Energia Nuclear foi criada em 1956 e se sustentou, nos primeiros anos, graças ao prestígio internacional de físicos como César Lattes,  José Goldemberg , Mário Shemberg, Oscar Sala  e outros. E enquanto as grandes potências aumentavam seu arsenal nuclear, ou buscavam os segredos da bomba, ao Brasil e outras nações em desenvolvimento cabiam o papel de pressionarem pelo desarmamento.

Na década de 60, o cenário mudava. Com a  crise dos mísseis em 1962, o momento mais crítico do período da Guerra Fria - quando em outubro de 1962 a União Soviética enviou foguetes atômicos para Cuba tornando palpável a possibilidade de uma guerra nuclear - a questão das  armas atômicas passou a ser uma constante no debate sobre segurança na América Latina. Mas foi depois de 1964, após o golpe militar, que o sonho atômico brasileiro ganhou força. Os militares entendiam que a bomba era sinônimo não só de domínio da energia nuclear, mas de força no cenário internacional.

No governo do presidente Castelo Branco, as grandes potências pressionavam por acordos que inibissem a proliferação de armamentos atômicos. Uma dessas iniciativas foi a Conferência de Desnuclearização da América Latina, marcada para 19/4/1966,  no México.

 

O jornal cobriu as negociações. Na capa de 03/4/1966 comunicou a posição do Brasil. O governo afirmava ser “partidário da desnuclearização da América Latina”, mas colocava suas condições. A principal delas a de que “nenhuma nenhuma nação do Continente fique de fora. Também declarava que em qualquer acordo firmado pelo Brasil ficariam “plenamente resguardados os interesses da pesquisa científica e do avanço tecnológico do País no setor atômico.”

Publicidade

Em editorial de 26/4/1966, o jornal apoiou a posição do governo brasileiro diante da desnuclearização. E transcreveu trechos do informe do Itamaraty,  “qualquer projeto de desnuclearização da América Latina, para ter eficácia real e não ser um mero engodo aos povos, requer garantias da participação de todos os países da área, bem como, certeza previa e formal de que não serão, um dia, alvos involuntários de uma agressão nuclear”

No México, o Brasil sustentou sua posição até o final das negociações. Assinou o acordo, sem comprometer-se com qualquer impeditivo de pesquisas atômicas para fins pacíficos.

 

Foi o governo Costa e Silva o  primeiro a abraçar abertamente, como uma política de governo, o desenvolvimento da bombapara fins pacíficos”. A notícia tomou conta dos noticiários, o Brasil subdesenvolvido entraria na corrida nuclear ao lado das grandes potências. O presidente Costa e Silva afirmava o uso pacífico da energia nuclear pelo  País e explicava que se tratava de “colocar a serviço da melhoria das condições de vida do povo as forças portentosas que se concentram no átomo

 

Junto às Nações Unidas a diplomacia brasileira atuou em duas frentes. Numa defendia o direito de nações em desenvolvimento possuírem os segredos do átomo para fins pacíficos, Em outra apoiava o discurso e sustentava a  necessidade de metas de desarmamento para a manutenção da paz.

 
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.